O original da HBO documentaries, «Elizabeth Taylor: The Lost Tapes», está disponível na Max, e o nosso colega e crítico de cinema João Lopes já o tinha considerado como um dos seus destaques do Festival de Cannes de 2024 na METROPOLIS. «The Lost Tapes» é, sem margem para dúvidas, um documentário singular e marcante que, ao se debruçar sobre a vida e história de Elizabeth Taylor, expõe a própria História dos bastidores do cinema. É um relato que coincide com a mudança da produção em Hollywood. Os Estúdios de cinema eram uma autêntica fábrica de fazer filmes. E nesse campo de sonhos a jovem Elizabeth Taylor entra para a máquina. Anos mais tarde, a atriz foi uma das pioneiras que ajudou a desagregar o sistema de produção ao sair do seu contrato com a MGM e a ser a primeira estrela a ganhar um milhão de dólares por um papel e mais 10% da receita do filme quando foi a estrela de «Cleópatra». É o trecho mais curioso do filme, com as filmagens dessa mega-produção em Roma a par do início do relacionamento com Richard Burton, algo que enlouqueceu meio mundo e, reza a lenda, originou o termo “paparazzi”.
O documentário foi realizado por Nanette Burstein e teve como base uma série de conversas entre Taylor e o jornalista Richard Meryman a partir de 1964 em Los Angeles. As conversas, geralmente gravadas ao final da noite, são o ponto de partida para uma viagem no tempo através da narração sedutora, sexy e com total honestidade (era matéria de pesquisa para um livro). A este filão juntam-se as imagens dos filmes, fotos, soundbites de amigos e autores e até homevideos de umas férias de verão entre estrelas de cinema nos anos 1950. É fascinante a profundidade e o detalhe desta viagem pelo mundo de uma das maiores estrelas do cinema do século XX. O seu mediatismo combinou sempre o fascínio dentro e fora das telas, a sua vida amorosa (casada por 8 vezes) alimentou os tabloides em quase duas décadas. Os acontecimentos e a profundidade das suas relações são escalpelizadas com honestidade pela própria. E não é o caso de ficarmos com uma imagem melhor ou pior de Elizabeth Taylor, é o facto de ser a revelação da mulher por detrás dos holofotes, a complexidade das relações (amigos, realizadores, atores, produtores), os ímpetos amorosos, a vida dentro da máquina de produção e a sinceridade na primeira pessoa desta grande figura. Um documentário tão deslumbrante quanto a própria vida de Elizabeth Taylor.
Título original: Elizabeth Taylor: The Lost Tapes Realização: Nanette Burstein Documentário Duração: 100 min. EUA, 2024