Demolidor: Born Again

Olha quem é ele! O Demolidor está de volta ao streaming, desta feita com um reboot na Disney+. Charlie Cox volta a vestir a “pele” do justiceiro e reencontra Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) e o Punisher/Justiceiro (Jon Bernthal).

É o recomeço para o Demolidor (Charlie Cox). Depois uma passagem bem-sucedida pela Netflix em nome próprio, entre 2015 e 2018, e paragens por «Os Defensores», «Homem-Aranha: Sem Volta a Casa» (2021) e «She-Hulk: A Advogada», Matt Murdock volta a ser o centro das atenções em «Demolidor: Nascer de Novo». Com Vincent D’Onofrio também de regresso como o vilão Wilson Fisk, a história promete um embate ainda mais intenso, agora num contexto onde Fisk se esforça para comandar os destinos políticos de Nova Iorque.

O desenvolvimento de Matt Murdock em «Demolidor: Nascer de Novo» é um dos pilares da série, sobretudo na sequência de um acontecimento traumático que muda drasticamente o seu quotidiano. A narrativa reflete a evolução da personagem que passou por diversas adversidades nas histórias anteriores e tem de, no regresso a solo, enfrentar novos desafios. A forma como a série equilibra a vida dupla de Matt, como advogado e vigilante, é essencial para compreender a complexidade da sua personalidade e a dinâmica da ação, nomeadamente no crescendo para a conclusão das storylines.

Todavia, Matt já não é o mesmo idealista que acreditava conseguir mudar a realidade de Hell’s Kitchen através da sua coragem e intervenção. O impacto das escolhas que fez e a constante luta com a sua identidade começam a pesar mais, dificultando os seus dias e a comunicação com quem o rodeia. Isso provoca afastamentos inesperados que, por sua vez, prejudicam a dinâmica da série e a ligação aos fãs da série da Netflix, que podem sair desiludidos.

Em contrapartida, Matt está a seguir um caminho de redenção e significado. Embora continue a lutar por justiça, o protagonista questiona o que a justiça verdadeiramente significa, e quais os métodos para a atingir. Já não tem tanta certeza de que as suas ações, muitas vezes violentas, sejam as mais adequadas. As suas interações com o sistema de justiça, mesmo como advogado, também refletem essa crise interna, e as suas escolhas de novos clientes não são as mais óbvias. Será mais fácil seguir a lei ou contorná-la como vigilante?

O potencial psicológico da personagem não é apenas explorado nas cenas de ação, mas também no seu comportamento, nas suas relações com outras personagens e, principalmente, nas conversas que mantém consigo mesmo.

Fisk é um dos maiores vilões da história do Demolidor e a sua presença torna a narrativa mais complexa e coerente, pelo histórico. Em novas posições, mas ainda em confronto, Matt e Fisk corporizam não apenas um duelo físico, mas também moral. Matt tenta lidar com o peso das suas atitudes, o que coloca a série numa linha mais filosófica e reflexiva, até escalar para uma componente mais violenta.

Por sua vez, «Demolidor: Nascer de Novo» estabelece, mais uma vez, a importância de Hell’s Kitchen no Marvel Cinematic Universe (MCU). Enquanto defensor de uma cidade cheia de criminalidade e corrupção, Matt é mais do que um herói urbano: ilustra a luta pela justiça e pela moralidade numa realidade onde estas são subvertidas com regularidade, e aprofunda a reflexão sobre isso. Isso cria o potencial para uma riqueza narrativa que torna a série mais do que uma simples história de um vigilante em busca de vingança. É uma análise sobre o próprio sistema e sobre o que significa ser um herói na “atualidade”, bem como a forma como as mudanças inesperadas impactam a motivação dos justiceiros para conseguirem cidades seguras.

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº116, Março 2025]