«O Amador» é um thriller de espionagem que tem Rami Malek como protagonista. O actor interpreta Heller, um tímido especialista em descodificação da CIA, a sua esposa é morta num atentado terrorista. Heller deseja justiça, mas depara-se com a inoperabilidade da CIA em nome de outros interesses mais cinzentos.
Heller investiga por sua conta e descobre informações que comprometem os seus superiores. Ele faz um acordo em troca do seu silêncio: ser treinado como operativo para encontrar os assassinos. O filme nunca perde as estribeiras apesar da premissa, o protagonista não se transforma de geek para agente secreto, não anda de Aston Martin nem tem um jetpack. Ele escapa dos EUA para a Europa, anda de hoodie, desloca-se de comboio e autocarro e dorme em apartamentos pouco vistosos quando não pernoita ao relento.
Heller é alguém ultra inteligente que chega à conclusão que nunca conseguirá matar a sangue-frio os homens que assassinaram a sua esposa. Ele utiliza o intelecto e as suas mais valias para cumprir o seu desejo e ao mesmo tempo escapar às garras dos superiores da CIA que desejam abafar as suas promiscuidades eliminando Heller.

O filme foi dirigido por James Hawes que é um realizador com uma longa carreira na televisão. Hawes dirigiu seis episódios de uma das melhores séries de espionagem dos últimos anos: «Slow Horses», da Apple TV+. «O Amador» tem de facto um lado menos urgente na progressão narrativa, na linha de alguns thrillers da velha guarda, a investigação é mais passiva e existe também uma contemplação/interpretação da angústia do protagonista – não só da perda da esposa mas igualmente das consequências dos seus actos.
Estamos longe do personagem se transformar num Rambo e temos deleite com a cadência desta história que nunca se torna vazia ou enfadonha mantendo um ritmo certo de entretenimento. Há mais a conjugação entre o trabalho de observador/descodificador do que tiroteios e grandes perseguições. Esta tensão dá credibilidade ao filme e faz-nos lembrar «Memória à Flor da Pele» de 1988, a primeira aparição do personagem Jason Bourne, num modo mais analógico e interpretado pelo recém falecido Richard Chamberlain. Heller é um protagonista que não é definitivamente um herói apenas se quer vingar e tentar preencher a sua dor punindo aqueles que lhe retiraram cruelmente quem ele amava. A sua esposa é interpretada por Rachel Brosnahan («A Maravilhosa Sra. Maisel»), que surge pouco em cena nos momentos iniciais, flashbacks e artifícios de memória de Heller que reforçam a perda e fazem-nos compreender as motivações do protagonista.

O filme tem inúmeros personagens interpretados por vários actores de renome que formam as sub-tramas que enriquecem o enredo: Laurence Fishburne como mentor e a sombra de Heller; Caitríona Balfe como uma inesperada aliada neste jogo de espionagem; e Holt McCallany como o dinossauro da CIA que gosta de jogar sujo.
As sequências de acção são previsíveis, mas mesmo assim nunca deixam de entreter a audiência. Rami Malek está igual a si mesmo e plenamente investido no seu personagem o que fez toda a diferença na credibilidade de «O Amador».
Título original: The Amateur Realização: James Hawes Elenco: Rami Malek, Rachel Brosnahan, Laurence Fishburne, Caitríona Balfe, Jon Bernthal, Julianne Nicholson, Holt McCallany, Michael Stuhlbarg Duração: 123 min. EUA, 2025
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