Cidade de Nova Iorque, à noite. Aeroporto JFK. Uma mulher entra para o banco de trás de um táxi amarelo. O taxista coloca o veículo em movimento em direção a Manhattan… e este é o mote para uma conversa inesperada entre os dois, que nos vai prender durante 100 minutos.

Sim, são apenas dois protagonistas, num carro que circula pelas estradas de acesso à baixa de Manhattan. Dakota Johnson é uma passageira que acaba de chegar de um voo interno. Sean Penn, por sua vez, é Clark, um taxista que há mais de 20 anos transporta passageiros no seu táxi amarelo gasto pelo tempo.

«Daddio – Uma Noite em Nova Iorque» é a primeira longa-metragem realizada por Christy Hall, que também assina o argumento – Christy Hall é, aliás, co-argumentista do filme «Isto Acaba Aqui». Voltando a «Daddio», este parte de uma história que foi criada para ser uma peça de teatro, e que é produzida por Dakota Johnson e pelo próprio Sean Penn, que garantiu à realizadora que um dia que ela pretenda levá-la a palco, ele estaria igualmente interessado. Neste filme, a narrativa segue precisamente de uma experiência muito nova-iorquina, mas que de alguma forma se reflete em todo mundo, quando alguém se desloca pela cidade dentro de um táxi. Que conversas surgem entre quem transporta e quem é transportado? Que partilhas são feitas num espaço “seguro” entre dois estranhos? Ainda é possível fazê-lo em novos formatos, como os populares Uber?


Foi desse ponto que Christy Hall partiu, contando com o total apoio de Dakota Johnson que além de produtora quis ser a protagonista e sugeriu convidar o seu amigo Sean Penn. Quase tudo filmado dentro do carro em movimento, a mestria da realizadora está em criar uma ação que não cansa o espectador. Pelo contrário. O espectador fica agarrado desde o início à coisa mais simples do mundo: uma conversa entre duas pessoas. Dois estranhos que partilham histórias, perspetivas, memórias, confidências e olhares que, muitas vezes, dizem mais do que mil palavras.

Com uma banda sonora simples, mas impactante, e assente num diálogo que não deixa de lado uma crítica realista às relações humanas de hoje, à forma como o dinheiro físico está a desaparecer ou até à imposição de um telefone que se sobrepõe ao contacto presencial, Christy Hall e as excelentes performances de Sean Penn e Dakota Johnson levam-nos à essência do que é ser humano e das relações e conexões que estabelecemos com o outro quando simplesmente escolhemos abrir o coração.


Em «Daddio – Uma Noite em Nova Iorque», queremos apenas estar ali. Ir com eles. Queremos ser a mosca que ninguém vê mas que tudo ouve. Não por curiosidade mórbida, mas porque é nesta partilha que criamos engagement com o outro, que nos empatizamos e crescemos, sabendo que outros fizeram outros caminhos para chegar ao mesmo destino. E o cinema é isso mesmo. Um cenário simples com duas pessoas que contam histórias e que nos fazem desejar não sair em nenhum apeadeiro até ao fim da viagem. Não é imperativo um grande enredo, não são necessárias grandes perseguições, explosões ou mistérios por resolver. Ali fala-se da vida, dos dias que correm, do que a tecnologia trouxe, e dos conceitos ou memórias que vão desaparecer, mas celebra-se o que sempre nos tornará humanos: a capacidade de partilhar emoções e histórias de vida, sabendo que nunca nada será linear, que uma simples viagem de táxi pode mudar a nossa vida e que um estranho pode ser o melhor amigo que precisamos naquele momento. «Daddio – Uma Noite em Nova Iorque» é uma celebração das coisas simples da vida e uma bonita homenagem ao cinema que, em última instância, será sempre o palco de imagens em movimento a partir de uma boa história, difundidas por diversas pessoas e impactando cada uma individualmente.

Obrigada, Christy, Dakota e Sean pelo lembrete de coisas importantes que é necessário não esquecer.

Título Original: Daddio Realização: Christy Hall Elenco: Dakota Johnson, Sean Penn Duração: 101m EUA, 2023

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