«Coro», dirigido por Edgar Ferreira, celebra os 60 anos do coro Gulbenkian, a singularidade de um coro de renome internacional cujos membros têm outras profissões e que é admirado e elogiado dentro e fora de Portugal. A dedicação e o amor à música dos seus membros, que conciliam outras profissões com a atividade coral é uma das marcas deste documentário.

Para a realização do filme, a Fundação Calouste Gulbenkian deu liberdade total ao realizador para criar, como nos revelou, no início da conversa que a Revista METROPOLIS teve com ele. No primeiro trabalho do universo Gulbenkian, «Soma das Partes», sobre a orquestra da fundação, o realizador optara por uma viagem histórica, agora a abordagem é distinta: «Coro» cuja génese, está ligada à produção do filme anterior, assenta nos depoimentos e experiências pessoais dos coralistas, explorando a relação entre as suas ocupações profissionais e a sonoridade única que produze e retrata a diversidade dos membros do coro e como cada um contribui de forma única, seja pela redenção, prazer de trabalhar em grupo, ou libertação emocional que a música proporciona. O filme mostra a extrema dedicação dos coralistas ao coro, que se torna uma necessidade vital, refletindo a força invisível que move a criação artística.

Como é que nasceu este segundo projeto sobre a Gulbenkian, o «Coro»? Fale-nos da génese deste filme…

Edgar Ferreira: Já quando estava a fazer o documentário sobre a orquestra, achava muito interessante esta ideia de haver um grupo que tem um reconhecimento internacional enorme, como é o caso do coro Gulbenkian, mas ao mesmo tempo, fazem-no em partime! Ou seja, todos eles têm outras profissões, tem outros ofícios, e no entanto, há ali uma militância, um trabalho permanente e diário de ir ao encontro da música, de se dedicarem a todas estas obras, a todos estes programas com diferentes maestros para atingir um resultado artístico muito elevado. Acho que é isso que a distingue! Ou seja, existem muitos coros, cujos membros têm outras ocupações, mas um coro com a reputação do coro Gulbenkian, internacional, e que mantém esta diversidade de pessoas com diferentes ofícios, já não é assim tão comum. E que é uma surpresa para muitos maestros internacionais, e isso é dito também pelos próprios coralistas do coro Gulbenkian.

A opção de basear o filme nos depoimentos e nas experiências pessoais dos elementos do coro Gulbenkian. Qual a fundamentação desta opção estrutural do filme?

Edgar Ferreira: Já há muito tempo que tinha esta ideia! Sentia, já há muito tempo a vontade de explorar este lado menos conhecido: as pessoas que frequentam o grande auditório, que vão à programação anual do coro e da orquestra Gulbenkian, não têm a perceção de que o coro Gulbenkian não está a tempo inteiro enquanto um conjunto de músicos. Isso parecia-me qualquer coisa que poderia adicionar ao entendimento do que as pessoas têm em relação a este grupo, mas também sobre a própria música que o grupo produz. Porque, depois, a coisa começa a ficar um pouco mais extensa, nas quais as diferentes ocupações dos coralistas, também trazem uma carga para a sonoridade que produzem. Então, ficamos nesta linha ténue de que se é um fardo para eles, ou se de facto é qualquer coisa que contribui para um som único que eles produzem.

O interessante é que dessa multiplicidade de indivíduos, de experiências e trajetos, nasce um som único – um coro -é essa ideia de uniformidade, não é?  Que critérios na escolha dos depoimentos dos membros do coro?

Edgar Ferreira: Sim. Esse acho que é um processo interessante, por isso apresentamos as histórias individuais. E houve muitas histórias que ficaram por contar. Todos eles – no total fizemos um conjunto de 35 entrevistas, fizemos inquéritos antes de fazermos as entrevistas – Havendo tantas histórias e algumas similares, existem umas histórias que estão em representação de outras. Ou seja, a diversidade de histórias era precisamente para conseguir ter um retrato de grupo, mas que fosse um filme mosaico- um retrato que só quando juntamos todas as partes é que conseguimos ter a visão do todo. Estas pessoas foram escolhidas pela sua experiência pessoal. Por exemplo, tinha necessidade de introduzir um contexto histórico no filme: tenho um dos elementos do coro que é musicólogo. Esta pessoa preenche aqui uma lacuna desta história que pretendo contar. Se há algumas que me interessa pelo lado do sacrifício, outros me interessam pelo trabalho que fazem em grupo, outros pela individualidade (um coralista que está habituado a trabalhar com grupos e depois outro coralista que tem um trabalho num escritório que ninguém sabe o que ele faz nas horas livres, fora de expediente). Por isso, existiram muitos critérios diferentes para escolher as pessoas e acho que se passasse pelo processo outra vez, poderia escolher outras pessoas, e tenho essa sensação: há muitas histórias que ficaram por contar.

Uma das facetas que se destaca no filme é a extrema dedicação dos coralistas, mas ao mesmo tempo a extrema necessidade que eles sentem em relação ao coro. É quase como uma necessidade a pertença ao coro. Uma necessidade vital. Concorda com esta ideia?

Edgar Ferreira: Concordo. Para já, acho que demonstram aquilo que muitos de nós sentimos na criação artística, existe qualquer coisa que nos move, uma força invisível que nós desconhecemos, mas a verdade é que nos impele na procura dessa criação, seja em que área de criação for. O coro não escapa a isso. Tem uma particularidade: ao invés de fazer sobressair o indivíduo, avança para a diluição do individuo, e acho que este exercício é muito interessante e ainda hoje pensava se haverá assim tantos mais exemplos deste fenómeno que é a diluição do ego. Abdicar do eu, não no sentido de apagar mas no sentido de ir ao encontro do outro, mas proporcionar esta fusão de ligação, que resulta quando eles cantam em conjunto. Até numa orquestra é diferente!

[Leia a entrevista integral na Revista Metropolis nº116, Março 2025]

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