«A Regra de Jenny Pen» é um filme ultra intenso onde predomina o terror psicológico. É uma obra que se torna perturbadora quando o mal anda à solta num lar de idosos e simultaneamente é uma evocação do bullying elevado ao cubo. 

Stefan Mortensen (Geoffrey Rush) é um juiz que teve um AVC a meio de uma audiência, fica parcialmente paralisado acabando por ser internado num lar mais modesto. No lar, contra a sua vontade, é forçado a partilhar o quarto com uma antiga referência do rugby neozelandês. O trato de Stefan não é o mais fácil, além do inconformismo perante o seu diagnóstico ele tem pouca paciência para estar junto de idosos com múltiplos problemas, mas o verdadeiro pesadelo ainda estava prestes a começar…

Dave Crealy (John Lithgow) é um residente do lar que faz parte da mobília, durante a noite anda livremente pelos corredores como se fosse o dono da residência. Ele tem uma “chave mestra” que abre todas as portas do lar e desperta todos os pesadelos… Ele passeia com uma boneca de plástico no seu punho, a Jenny Pen. A boneca serve para dissimular e explanar a sua crueldade junto dos residentes. Ele é um sociopata, um homem extremamente tenebroso que vive para aterrorizar os pacientes que vivem num medo generalizado com a sua presença. Dave e o antigo Juiz Stefan estão prestes a entrar em rota de colisão… 

O filme não tem nada de sobrenatural – o que o torna ainda mais aterrador – neste retrato de um lobo com pele de cordeiro. A dose de realismo da obra advém de todas as histórias de pessoas que aterrorizam e fazem bullying impunemente só porque podem e não há ninguém que os enfrente. O personagem de Dave Crealy é a personificação dessa estirpe. O filme é igualmente um olhar para as pessoas que antes eram tão seguras de si e por várias razões (físicas e psicológicas) tornam-se permissivas à subjugação ao transformarem-se em fantoches dos caprichos de gente cruel. 

O enredo vai explorar as origens do mal e o filme está sempre em constante crescendo, não só pela sua história, mas também por duas interpretações sublimes de John Litgow e Geoffrey Rush. É uma masterclass na arte de bem representar na construção dos papéis de agressor e do resistente. John Litgow está feroz, assustador e diabólico, na sua longa e distinta carreira podemos recuar a 1992, a «Em Nome de Caim» [«Raising Cain»] de Brian De Palma, para encontrar um personagem seu que fosse tão tresloucado e medonho. O magnífico actor australiano, Geoffrey Rush, só peca por não fazer mais cinema mas sempre que o faz, raramente desilude, continua incrível.

«A Regra de Jenny Pen» é uma daquelas obras que vai cair no goto dos espectadores. É incrível que estas produções ainda precisem de lutar para encontrar o merecido espaço para estrear nas salas de cinema.  Podemos e devemos desfrutar este filme no grande ecrã, é uma combinação de duas interpretações de sonho num argumento sem falhas de Eli Kent e James Ashcroft (a partir de uma short story de Owen Marshall). A realização cirúrgica de James Ashcroft deixou as performances respirarem e a história faz os devidos estragos. «A Regra de Jenny Pen», é muito mais do que cinema de terror, estamos perante um belíssimo filme.

Título original: The Rule of Jenny Pen Realização: James Ashcroft Elenco: Geoffrey Rush, John Lithgow, George Henare Duração: 104 min. Nova Zelândia, 2024

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