«Kneecap – O Trio de Belfast» já soma mais de 64 nomeações e 20 prémios, incluindo o Prémio do Público no Festival de Sundance, o BAFTA para Melhor Estreia na Realização e até o Prémio Revelação TAP na última edição do LEFFEST. O filme chegou à shortlist dos Óscares para os 10 melhores filmes internacionais e, ainda que não tenha garantido a nomeação à estatueta dourada, a verdade é que a obra de Rich Peppiatt tem marcado presença nos principais festivais e não tem deixado a audiência indiferente.

Mas comecemos pelo princípio. Rich Peppiatt, inicialmente, realizou um videoclipe para o trio de hip-hop irlandês “Kneecap”, formado em 2017. Foi nesse processo que surgiu a ideia de contar a história da banda naquela que se tornaria a sua primeira longa-metragem. O filme nasce dessa colaboração e rapidamente assume tons de biografia, mas contada de forma anárquica, parodiada e frenética—um espelho do espírito do trio e uma abordagem que evoca o estilo visual e narrativo de «Trainspotting», de Danny Boyle.

A premissa pode parecer leve, recheada de humor, mas «Kneecap – O Trio de Belfast» é muito mais do que a história de três jovens constantemente drogados e em confronto com o lado unionista da Irlanda do Norte. Eles pertencem à geração “pós-Troubles”, uma juventude nascida depois da fase mais violenta do conflito entre nacionalistas republicanos, que defendiam a reunificação da Irlanda, e os unionistas, que desejavam manter-se sob o domínio britânico. Católicos contra protestantes, passado contra futuro—mas nada é tão simples assim.

Embora o conflito armado tenha dado lugar a tréguas, a tensão não se dissipou. Ainda há um fervor latente, um povo que não quer perder a sua identidade. E é precisamente aí que entra a atitude dos Kneecap. De forma irreverente e desafiante, eles fazem da música um ato de resistência, usando o irlandês (Gaeilge) como ferramenta contra o domínio do inglês. Os chamados “peelers” – a polícia britânica—são um alvo constante da sua provocação, e a sua própria existência é um desafio às normas impostas.

Atualmente, existem cerca de 80.000 falantes nativos de irlandês, dos quais apenas 6.000 vivem na Irlanda do Norte. O trio—composto por dois amigos de infância e um professor de música que é DJ nas horas vagas—insere-se nessa minoria linguística e cultural. Com um rap anárquico e provocador, não só desafiam um estatuto que rejeitam, mas também contribuem para a revitalização da língua materna. Para muitos, o irlandês é apenas uma herança do passado; para eles, é um símbolo vivo de resistência. Uma geração nova, ainda perdida entre o futuro que não parece promissor e um passado que ficou implodido nas causas dos pais, ausentes de casa para estarem presentes por uma causa.

Rich Peppiatt revela-se brilhante e inteligente na forma como entrelaça a história dos Kneecap com a de Belfast, misturando o ritmo alucinante dos videoclipes da banda com imagens reais que contextualizam a turbulenta história da Irlanda. Os próprios membros do trio assumem os papéis principais e provam ser exímios intérpretes da sua narrativa. Com uma linguagem simples, direta e carregada de ironia, o filme convida-nos a mergulhar numa Belfast moderna e vibrante, mas ainda assombrada pelo seu passado.

Belfast continua a ser um barril de pólvora, onde a identidade, a política e a cultura se entrelaçam num jogo de forças constante. Como bem demonstram os Kneecap, a revolução já não se faz com balas, mas com música. E a preservação do irlandês pode parecer um pequeno passo—mas é, na verdade, um enorme gesto de resistência. A questão, no entanto, permanece: a maior luta não acontece no palco. A verdadeira batalha trava-se dentro de cada um. E esse território, o do coração, será sempre o mais sagrado e o mais ameaçado também.

Título original: KNEECAP Realização: Rich Peppiatt Elenco: Mógalí Bap, Mo Chara, DJ Próvai, Josie Walker, Jessica Reynolds, Michael Fassbender Duração: 105 min. Irlanda do Norte, Reino Unido, 2024

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