[Texto publicado originalmente no site Cinema2000, 17 de Janeiro 2008]
Para quem não tem a oportunidade de passar por festivais de cinema vai chegando às nossas salas, ainda que tenuemente, a produção da nova vaga de cinema romeno. «4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias» para além do peso do seu palmarés internacional é um dos expoentes máximos da produção romena. Aborda em assuntos do foro universal, a vida sobre o autoritarismo e o aborto clandestino. Este último tópico espera-se que gere debate e algum choque nos espectadores.
O enredo definha em menos de vinte e quatro horas aflitivas na vida de Otília (Anamaria Marinca), uma jovem universitária que tem uma determinação sobre-humana para servir de pronto socorro à sua amiga, ao namorado e ao parteiro/proxeneta tudo sobre um clima de terror de um país em plena ditadura. É algo que pouco se vê mas sente-se o desconforto daqueles que vivem no dia a dia sobre o peso do regime. A procura da humanidade num clima desumano é um acto extraordinário de cinema. «4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias» é um filme memorável pela sua exposição sem pudor, quer das sequências que envolvem a interrupção da gravidez até a presença em cena dos personagens que controlam cada plano de realização. A câmara é escrava dos intérpretes num esforço de realismo desconcertante. Esta hiper sensibilidade da Roménia para os eventos que envolvem os personagens e a sua história recente torna-se cada vez mais um dogma cinematográfico dos tempos modernos.
Título original: 4 luni, 3 saptamâni si 2 zile Realização: Cristian Mungiu Elenco: Anamaria Marinca, Laura Vasiliu, Vlad Ivanov Duração: 117 min. Roménia, 2022
https://www.youtube.com/watch?v=sCQz3gaDv94
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