“Zorro O Regresso de Entre os Mortos” (Asa) é uma aventura electrizante. O autor e artista norte-americano Sean Murphy (“Batman: Beyond the White Knight”) reinventa da melhor forma uma figura mítica da cultura pop através de uma brisa de ar fresco e reinvenção de um herói, é uma grande surpresa. As cores pertenceram a Simon Cough, o resultado é uma aventura em cinco capítulos com uma encadernação e apresentação de luxo da editora Asa que adaptou os quatro comics de Zorro e criou um hardcover em quatro capítulos a todo o galope. O álbum ainda inclui as capas dos quatro comics e as suas versões alternativas.
O personagem ficcional foi criado há mais de 100 anos pelo escritor Johnston McCulley. Zorro surge pela primeira vez no livro “The Curse of Capistrano”, que vendeu ao longo dos anos quase 50 milhões de cópias. Mas o vigilante mascarado foi catapultado para a cultura popular graças ao grande Douglas Fairbanks em «The Mark of Zorro», a adaptação cinematográfica do herói em 1920. O personagem apareceu em cerca de 40 filmes e fica na memória graças à clássica série de televisão «Zorro» com Guy Williams. No final dos anos 1990, o herói volta a ser popularizado no blockbuster «The Mask of Zorro» do neozelandês Martin Campbell («007: Casino Royale») com Antonio Banderas, Catherine Zeta-Jones e Anthony Hopkins.
A história criada por Sean Murphy nesta novela gráfica “Zorro: O Regresso de Entre os Mortos” fica mesmo marcada pela originalidade que conseguiu um feliz matrimónio entre a realidade no século XXI com a lenda criada no século XIX. O protagonista é definido por regras e princípios que são a espinha dorsal de um herói mítico do povo oprimido. O desenho deste álbum é muito convencional, envolvente e assertivo, estando ao nível dos melhores comics da actualidade. É um traço que me faz lembrar o magnífico regresso de Daredevil na estreia da etiqueta Marvel Knights em 1998 pelas mãos do desenhador Joe Quesada (mais tarde tornou-se director da Marvel) e Kevin Smith (esse mesmo, o realizador de cinema).
O enredo de “Zorro: O Regresso de Entre os Mortos” arranca a celebração de uma lenda. Os mexicanos de La Veja em idos tempos, estavam sob o jugo dos invasores espanhóis e só tinham salvação graças a um herói mascarado. Numa encenação teatral que celebrava o maior dos heróis, no famoso feriado mexicano do Dia dos Mortos, Diego é uma criança que vê o seu pai assassinado em palco pelo líder de um cartel local. A sua irmã Rosa separa-se de Diego e ambos seguem vidas separadas.

Vinte anos mais tarde, sabemos que Rosa se juntou ao cartel e está sob a proteção de Trejo, que se considera um irmão da jovem. Eles trabalham para o líder do cartel (o homem que matou o pai de Diego e Rosa). Por seu lado, Diego foi criado numa quinta por Alejandro, o seu segundo pai que lhe ensinou a perícia, o intelecto e a geometria da esgrima e, sobretudo, os valores do mítico Zorro. Diego parece que parou no tempo, vive e comporta-se como se estivesse possuído pela alma do herói mascarado, um defensor do povo. Quando o cartel assassina Alejandro, Diego é salvo pela sua irmã. Alejandro tentou durante anos ceder às ambições do cartel e os seus campos de papoila para proteger a sua comunidade de La Vega.
Assim se inicia uma grande aventura quase quixotesca, Diego galopa no seu cavalo, o Trovão, para combater homens armados até aos dentes no século XXI. O cartel não apreciou a traição de Rosa e não se pode dar ao luxo de ter uma revolta do povoado. O que poderia parecer absurdo resulta na perfeição: um homem de outra era é reverenciado pela população, que acredita que Zorro irá, mais uma vez, libertá-los da corrupção e da tirania. A comunidade está disposta a lutar ao lado de Zorro, para grande espanto e frustração de Rosa, que não acredita em lendas perante a raiva de um cartel que não se cansa de fazer escorrer sangue. É assim que, após 200 anos da última aparição de Zorro, a esperança volta a nascer em La Vega. O povoado sempre soube que o espírito esteve sempre presente para proteger o precioso vale.
Diego fala de forma esquisita, parece ter saído de um filme antigo e faz-se acompanhar nas suas aventuras de uma pequena raposa (a Bandido), além do seu cavalo. Dizem que o jovem nunca se recuperou do trauma do assassinato do pai e encontrou na figura de Zorro um escape para o seu desgosto, mas também a sua afirmação. Ele deseja pôr fim aos abusos ímpios do cartel.
No meio do povoado surge um importante aliado dos irmãos De La Vega, um indivíduo intitulado Cemintério, um gringo que foi em tempos o assassino mais perigoso da América do Sul. Digamos que ninguém sobreviveu para contar a história…
É nesta dinâmica de loucura e acção constante que o leitor vai sendo convertido pela febre do mítico herói. Ele é uma espécie de Robin dos Bosques, numa excelente ponte entre a aventura e os princípios da justiça com o leitor apaixonado por aventuras de capa e espada que têm metralhadoras pela frente. É uma novela gráfica vencedora, audaz e arriscada, é um triunfo com a marca de Zorro.