Grandioso e impactante, «X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido» é o melhor filme da saga dos mutantes. Mas será isso suficiente? Nesta nova obra, intercalada entre passado e futuro, os X-Men enfrentam a maior guerra de sempre, estando à beira da extinção devido à perseguição dos Sentinelas, os implacáveis robôs que têm como única missão matar todos os mutantes. Para evitar uma catástrofe incontornável, Wolverine (Hugh Jackman) é enviado ao passado (através da sua consciência) para a década de 1970, de modo a evitar que Mística (Jennifer Lawrence) cometa um assassinato que viria a comutar o destino da espécie mutante. A sua missão é clara e objectiva mas nada fácil: convencer os irascíveis e irresponsáveis jovens Charles Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) que têm de unir-se e controlar Mística. Enquanto isso, no futuro, os mutantes sobreviventes tentam evitar que sejam destruídos pelos Sentinelas antes que Wolverine possa concluir a sua árdua tarefa.

Bryan Singer sabe fazer filmes X-Men, não tivesse sido ele que fez nascer a saga no Cinema. O realizador percebe a história dos heróis da banda desenhada e enaltece a sua presença e super-poderes no grande ecrã. Em «X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido», Singer é competente e criativo, caracterizando de forma iniludível as diferenças entre passado, retratado de forma iridescente e brilhante (simbolizando a esperança), e futuro, mostrado como obscuro e inóspito, numa total falta de alento para a realidade vivida. Um dos grandes desafios deste filme seria a forma como as alterações do passado repercutiriam no futuro, mas a solução encontrada foi simples e muito clara, não tornando a obra confusa. A fotografia não é particularmente tocante, mas também não decepciona. A banda-sonora é um dos aspectos positivos da obra, estando em permanente harmonia com a narrativa, sendo um bom complemento à mesma.

«X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido» junta o elenco da trilogia original e da nova fase que debutou em «X-Men: O Início» (2011). Com uma união obscena de talento e actores renomados (muitos deles nomeados a Óscares e oscarizados, entre outros prémios), revela-se uma desilusão o mero desfilar de personagens, muitas delas com poucas ou nenhumas falas, quase não passando de simples cameos. A dimensão mais intrincada das personagens fica reservada para Mística, Wolverine, Charles Xavier e Magneto. É assim uma oportunidade desperdiçada e algo chocante em ter actores como Patrick Stewart, Ian McKellen, Halle Berry e Ellen Page em papéis diminutos. O maior desperdício de talento é mesmo o do brilhante Peter Dinklage, que interpreta um vilão insosso e pouco chamativo. Apesar de o actor ser fantástico e tentar incrementar a personagem de algumas nuances, esta é demasiado limitada. Mística é a rainha e senhora da obra, em que tudo depende dela. Ela tem de optar em ser Raven (a menina com compaixão que cresceu com Charles), Mística (a assassina impiedosa que Magneto ajudou a moldar) ou, quem sabe, simplesmente pensar por si própria. É desta escolha que se definirá o futuro mutante. Jennifer Lawrence brilha no papel da vilã titubeante e destemida, conseguindo atribuir à personagem o medo e uma profunda incerteza. Hugh Jackman volta, mais uma vez, a ser Wolverine (claramente o papel da sua carreira) e é sempre uma interpretação interessante, sobretudo aqui, em que o mutante das garras afiadas tem um papel muito pouco comum na sua história: o de mediador paciente e diplomático. James McAvoy é, todavia, o actor que mais se destaca na obra, interpretando Professor X bem antes de este ter este título, numa altura em que se sentia morto por dentro, tentando sobreviver a si próprio. A cena em que Charles Xavier do passado e futuro conversam é mesmo uma das mais marcantes da obra, brilhantemente representada por McAvoy e Stewart. Realce ainda para uma brilhante nova adição na equipa, Quicksilver (Evan Peters), um mutante incrivelmente rápido que rende o melhor momento do filme.

A narrativa de «X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido» é coesa, mas linear, faltando complexidade e alguma alma à história, carecendo-se, sobretudo, de um retrato mais intrínseco das personagens. Além disso, a história do filme fala da extinção de uma espécie e em vez de abordar de forma mais pungente o assunto, aproveitando o facto de os mutantes serem sempre renegados pela restante sociedade, são as cenas de acção que acabam por preencher a amálgama da narrativa. Ainda assim, esta é contada de uma forma dinâmica, prendendo o espectador, tendo ainda alguns momentos surpreendentes e pouco previsíveis, com um final particularmente magnetizante. Este não é, como talvez se pretendia, o melhor filme de sempre de super-heróis – esse posto continua a pertencer à perfectível trilogia Batman, realizada por Christopher Nolan. Não obstante, não deixa de ser uma tentativa categoricamente válida, mostrando que os mutantes continuam a ter lugar no Cinema, num novo fôlego imponente e magnificente, como nunca se tinha visto num filme X-Men.

Título original: X-Men: Days of Future Past Realização: Bryan Singer Elenco: Patrick Stewart, Ian McKellen, Michael Fassbender, James McAvoy, Hugh Jackman, Jennifer Lawrence, Halle Berry, Nicholas Hoult, Anna Paquin, Ellen Page, Peter Dinklage, Omar Sy, Shawn Ashmore. Duração: 132 min. EUA/Reino Unido/Canadá, 2014

[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº 20, Junho 2016]

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