As nossas expectativas para «Transformers: O Início» eram muito baixas face às últimas entradas na saga, mas ficámos bastante contentes ao percebermos que não poderíamos estar mais enganados. O filme suplanta todas as expectativas com uma grande história de origem por detrás da saga Transformers.

Na base do sucesso está uma história de lealdade e amizade que é contaminada pelo ódio e a cisão entre os melhores amigos. A caraterização da relação e os atos para nunca deixar para trás o melhor amigo definem este filme quando chega a altura da quebra entre Orion Pax (voz de Chris Hemsworth) e D-16 (voz de Brian Tyree Henry). Esse momento torna-se ainda mais incisivo e ao mesmo tempo que se dá o nascimento dos personagens icónicos e a origem da maior contenda desta saga entre Optimus Prime vs. Megatron. O eclipse entre dois melhores amigos que se tornam os maiores adversários é uma história magnífica que vale o filme.

A aventura de «Transformers: O Início» desenrola-se no planeta Cybertron, numa época desoladora onde encontramos os nossos personagens a trabalhar nas minas. Há uma sociedade injusta e dividida entre aqueles que se transformam porque têm engrenagens e os robots que são impotentes perante o poderio das classes que podem se transformar. O filme é mais musculado na sua narrativa, há subtramas que envolvem futuros personagens icónicos da série, como Orion Pax e D-16, mas também um enredo de emancipação que culminará com um evento tectónico da saga retratado no filme. Temos também mitologia na origem dos Primes e da engrenagem mais poderosa de todas, aquela que permite mudar um universo. Esse artefacto está desaparecido e só pode ser destinado àquele que é merecedor de usar essa engrenagem pelos seus atos de altruísmo, bondade e lealdade. Esta história é precisamente uma jornada de dois destinos que vão divergindo, Orion Pax procura a harmonia e a justiça, e D-16 torna-se cada vez mais ressabiado, ficando cada vez mais sedento de vingança e violência perante a injustiça da sua sociedade (uma interessante narrativa em si mesma no núcleo deste filme).


A introdução dos sidekicks é igualmante um novo fluxo de energia nesta aventura, Elita -1 (voz de Scarlett Johansson) e B-127 (voz de Keegan-Michael Key) nas suas versões de origem (no antes e depois
da transformação) também conquistam a audiência e o seu próprio espaço no filme. Um dos grandes motivos do sucesso de «Transformers: O Início» é o trabalho de vozes que é excepcional. Não basta o elenco ser formado por grandes actores, mas estes deram personalidade e emoções verosímeis a cada um destes personagens.

A animação é irrepreensível, há momentos em que parece que estamos a ver sequências CGI [Computer-generated imagery] dos filmes de imagem real dos Transformers, tal é o visual apurado desta obra. O facto de «Transformers: O Início» ser desenrolado em Cybertron permitiu aos criadores darem asas à sua imaginação e não criou aquele sentimento de destruição gratuita que vemos normalmente nas sequências de Transformers desenroladas na Terra que são puro big-bang. Aqui há quase um sentimento de videojogo, o que não me choca absolutamente nada – é mais uma válida forma de expressão artística – sendo que é uma linguagem comum há maioria dos fãs desta saga.

«Transformers: O Início» pode ser considerado uma prequela, mas mais do que isso, é um salto em frente desta série. Lembrando que o sucesso da saga Transformers (ou qualquer outra saga) assenta sempre numa boa história, com grandes personagens, o restante aparato é um complemento ao espectáculo. O realizador, Josh Cooley, e o seu elenco de atores estão de parabéns e convidam os espectadores a mergulhar num filme que pode ser uma porta de entrada para a saga, mas também tem aquela curiosidade de estarmos sempre, ao longo do filme, a ver os primórdios e a evolução dos pilares fundacionais de Transformers. É curioso que o franchise cinematográfico é originado a partir da animação, portanto, é justíssimo que seja precisamente uma animação a criar um dos melhores filmes da saga Transformers.

Título original: Transformers One Realização: Josh Cooley Elenco (Vozes): Chris Hemsworth, Brian Tyree Henry, Scarlett Johansson, Keegan-Michael Key, Jon Hamm, Laurence Fishburne, Steve Buscemi Duração: 104 min. Estados Unidos, 2024

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