Muitos dos que acompanham o Festival de Cannes acreditam que, mesmo não ganhando a Palma de Ouro, «Un Simple Accident», do iraniano Jafar Panahi, vai estar no palmarés atribuído pelo júri presidido por Juliette Binoche. Seja como for, a produção do Irão ficará como um dos destaques desta 78ª edição do festival, isto porque, para lá de Panahi, pudemos também descobrir o novo filme de Saeed Roustaee — título internacional: «Woman and Child» —, cineasta conhecido no mercado português através de «A Lei de Teerão» (2019) e «Os Irmãos de Leila» (2022). Fiel às subtilezas dramáticas do melodrama, Roustaee encena as convulsões de uma família em que duas irmãs protagonizam uma saga marcada por um arrojado desafio à autoridade “natural” que é reconhecida aos homens. Acima de tudo, Roustaee consegue um invulgar retrato psicológico, capaz de envolver os ecos de uma cultura de muito desigual, e também muito perversa, distribuição de poderes entre o masculino e o feminino. Como sempre acontece nos grandes filmes, o sublinhado dos particularismos acaba por se transfigurar no impacto de emoções genuinamente universais.

