A METROPOLIS teve acesso antecipado à temporada completa de «Pam & Tommy», que conta a história por detrás da divulgação massiva da cassete íntima do então casal Pamela Anderson e Tommy Lee. Os três primeiros episódios já estão disponíveis no streaming Disney+/Star.
“I’m Karma and I’m a bitch”. As palavras de Rand (Seth Rogen) sintetizam, no essencial, aquela que é origem do roubo e consequente divulgação da sex tape de Pamela Anderson (Lily James) e Tommy Lee (Sebastian Stan). Depois de Tommy, baterista dos Mötley Crüe, o despedir sem qualquer pagamento das obras que fez na sua mansão, Rand decide levar o cofre da garagem para, com o que guarda no interior, acertar contas com o arrogante milionário. Não fazendo ideia que lá se encontra uma cassete que vai mudar a vida de todos.
Quando descobre uma sex tape, Rand dá início, com Miltie (Nick Offerman), a uma improvável jornada que envolve a Máfia e o boom da Internet. «Pam & Tommy» tem por base um artigo da Rolling Stone de 2014, que traça a surreal verdade, pouco conhecida, por detrás da explosão da sex tape de Pamela e Tommy nas revistas, na televisão, no VHS e, por fim, na Internet. Tudo acontece porque Tommy, uma figura rica e arrogante, não quis pagar aquilo que para ele seriam uns “trocos”.
A perspetiva da série é clara e traz o lado menos falado de todo o drama: Pamela Anderson, que nada teve a ver com a vingança de Rand, é o elemento mais prejudicado pela cassete. Sem conseguir vingar no mundo do cinema mais “sério”, perdendo os castings em que participa, Pamela fica colada (mais do que nunca) ao papel de objeto de desejo sexual de milhões. Começando a carreira de modelo pela sua beleza e sensualidade, fez a primeira capa da Playboy em 1989 (é a personalidade que mais capas teve na revista) e lançou-se numa carreira de representação, cujo ponto alto foi a sua participação em «Baywatch». Após a divulgação da cassete, que se tornaria o primeiro vídeo viral da era da Internet, não havia forma de descolar dessa imagem: é uma luta desigual em que ninguém ganha verdadeiramente.
«Pam & Tommy» mostra Pamela como uma vítima de toda a história, cuja liberdade derradeira foi ter uma palavra a dizer na forma como a liberdade que tinha perdido ia ser gerida. Tommy era visto por muitos como um garanhão, um homem “avantajado”, e até elogiado pelos seus pares; já Pamela era olhada de lado e, profissionalmente, deixava de ser ouvida para ser apenas vista e julgada por algo que tinha sido divulgado sem o seu consentimento. É curioso que a série estreie pouco depois de «American Crime Story: O Caso Monica Lewinsky», uma narrativa que também procura acertar contas com a justiça feita à mulher pela sociedade dos seus dias – e pela que se seguiu.
Embora o mais chamativo da série seja o lado polémico, sexual e explícito da trama, a verdade é que «Pam & Tommy» é mais complexa do que isso. Há humanidade nas personagens que cria, nomeadamente em Rand, uma pessoa comum que se vê engolida por um plano pouco ou nada ponderado; em Tommy, que revela mais camadas por baixo do tipo arrogante e intempestivo; e sobretudo Pamela, que demora a apresentar-se à audiência. Primeiro, a atriz é vista à distância, como acontece na realidade, e depois a história vai-se aproximando dela e mostrando um outro lado que, apesar de ser ficcionalizado, ilustra a sua fragilidade no meio de toda a hecatombe.
Esta é uma criação de Robert Siegel, responsável pelos argumentos de «O Wrestler» (2008) e «O Fundador» (2016). O elenco inclui ainda Taylor Schilling, Fred Hechinger e Don Harvey, entre outros.