«Não Fales do Mal» [«Speak No Evil»] é um remake do homónimo filme dinamarquês de 2022 de Christian Tafdrup. Os temas do filme original parecem ter atraído o realizador britânico James Watkins que no passado tinha explorado estas mesmas temáticas.

James Watkins realizou em 2008 «O Lago Perfeito» [«Eden Lake»], um dos melhores e mais aterradores filmes desenrolados no countryside britânico. A acção desenrola-se num parque natural onde um casal citadino depara-se com um grupo de teenagers antissociais da província. O inesquecível filme de terror foi protagonizado por Kelly Reilly e Michael Fassbender.

A carreira do realizador James Watkins fica igualmente marcada por «McMafia» (2018) da BBC, um belo thriller internacional numa espécie de perda de inocência de um homem dividido entre os seus valores, o dinheiro e o poder, uma série com um grande desempenho de James Norton.

Em «Não Fales do Mal», um casal de classe média alta é atraído para um fim de semana em Devon, no West Country em Inglaterra. Ben Dalton (Scoot McNairy) e Louise Dalton (Mackenzie Davis) e a sua filha Agnes Dalton (Alix West Lefler) conhecem Paddy (James McAvoy), a esposa Ciara (Aisling Franciosi) e o seu filho Ant (Dan Hough) numas férias na Toscana. Os Dalton estabelecem uma inesperada amizade e surge o convite para visitar a quinta de Paddy em Devon. A atmosfera indicia que Paddy não bate bem dos pirolitos, subtis rasgos emocionais denotam que há uma tempestade prestes a eclodir. Os Dalton lidam com os seus problemas conjugais e a ansiedade da filha. Surge o choque cidade/campo e burguesia urbana face às pessoas e aos alegados costumes do interior, cria-se o confronto que estamos à espera desde o primeiro minuto mas que toma proporções medonhas.

Mackenzie Davis

As estrelas do filme são James McAvoy como o psicopata de serviço e Mackenzie Davis que é snob, mãe galinha e céptica até à medula, ela tenta manter o bom tom, mas é forçada a perder os requintes de flor de estufa quando os desenvolvimentos deixam a família no dilema de viver ou morrer. A sua personagem tem a metamorfose mais interessante da obra. Já vimos James McAvoy a fazer esse tipo de transformação, por exemplo, na sua brilhante actuação em «Glass» (2019). Ele não deixa de ser uma excelente personificação da tormenta e do mal humano na perturbadora figura de Paddy.

«Não Fales do Mal» é um thriller que expõe um conceito perverso onde os predadores andam à solta e alimentam-se de presas agarradas à educação, aos bons modos e às normas civilizacionais. Esse conjunto de valores torna-se alimento para os desígnios do mal e dos mais selvagens. Embora seja um tema que já foi explorado no cinema (e pelo próprio realizador) a previsível colisão de estereótipos não deixa de ter o seu impacto, especialmente, no arco narrativo de Abel, a criança que se transforma e torna-se categórico perante o mal, perdendo totalmente a sua inocência, no final da sua jornada impiedosa.

O clímax fervilha de intensidade e compensa a previsibilidade e o marasmo do “setup” desta história. A revelação dos sinistros acontecimentos e a crescente tensão proporciona um final arrepiante onde é preciso suplantar todos os receios para sobreviver perante a insanidade.

Título original: Speak No Evil Realização: James Watkins Elenco: James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi Duração: 110 min. Estados Unidos, 2024

ARTIGOS RELACIONADOS
Não Fales Mal – trailer

Uma família é convidada a passar um fim de semana numa idílica casa de campo, sem saber que as suas Ler +

Bastille Day
BASTILLE DAY – MISSÃO ANTITERRORISTA

Idris Elba provou ser um todo-o-terreno no papel do detective Luther na série homónima da BBC. Em «Bastille Day - Ler +

Expiação
EXPIAÇÃO

[Texto originalmente publicado no site Cinema2000, 17 de Janeiro 2008] «Expiação» é a segunda longa-metragem de Joe Wright, após «Orgulho Ler +

Meu Filho
Meu Filho – trailer

Edmond Murray (James McAvoy) trabalha para uma grande companhia petrolífera e tem sido claramente um pai ausente. Um dia, recebe Ler +

Exterminador Implacável Destino Sombrio
EXTERMINADOR IMPLACÁVEL: DESTINO SOMBRIO

Foi James Cameron quem começou o icónico sarilho, em 1984. “I’ll be back”, dizia então Arnold Schwarzenegger, o cyborg do Ler +

Please enable JavaScript in your browser to complete this form.

Vais receber informação sobre
futuros passatempos.