Respeitado pelo terror de «O Orfanato» (2007), o catalão J.(uan) A.(ntonio) Bayona impôs o seu nome como grife aos filmes de género (seja o cinema-catástrofe, em «O Impossível»; seja a fantasia, com «Sete Minutos Depois da Meia-noite») devido a um diferencial: a sua habilidade de dirigir crianças e explorar as angústias infantis. Há um cheiro disso em «Mundo Jurássico: Reino Caído», nas figuras jovens que se cruzam com os heróis Owen Grady e Claire. Mas é uma fragrância que desaparece no ar, com a mesma fluidez com que a assinatura autoral do cineasta aparece e se desfaz diante de uma estrutura viciada. O que interessa ao quinto filme da franquia criada em 1993, por Steven Spielberg (como um revisionismo tardio do seu «Tubarão»), são os feitos de Claire (vivida com apatia por Bryce Dallas Howard) e, sobretudo, de Owen, defendido com mestria por Chris Pratt. Tudo aqui se afoga na repetição de soluções da série. Desperdiça-se até a premissa sombria de um leilão de dinossauros em paralelo ao fim da ilha deles, decretado por uma erupção, o que deveria abrir um veio horrorífico na narrativa. Gaba-se muito, no marketing promocional da fita, que Bayona trouxe para o “Mundo Jurássico” um tempero de terror, mas este não se consolida como encenação ou como ritmo de montagem. A participação de Jeff Goldblum, retornando o papel do matemático Ian Malcolm, traz para o filme familiaridade e afeto, por resgatar um dos aspectos que a longa-metragem de 93 tinha de melhor: protagonistas tridimensionais. Ok, Pratt dá múltiplas dimensões à figura de Owen. Mas ele não consegue, sozinho, tirar a franquia da inércia.
Título original: Jurassic World: Fallen Kingdom Realização: J.A. Bayona Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Rafe Spall, James Cromwell, Jeff Goldblum Duração: 128 min EUA, 2018
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº61, Julho 2018]
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