300 Início de um império

300 – O INÍCIO DE UM IMPÉRIO

300 – O INÍCIO DE UM IMPÉRIO

Os 465 milhões de dólares de receitas da versão de Frank Miller e Zack Snyder da épica história dos 300 espartanos que fizeram frente ao esmagador poderio do império persa, tornaram inevitável a produção de uma sequela onde o estilo narrativo, altamente estilizado e sanguinolento, fizesse uma vez mais vibrar o público pagante. A esse nível o objectivo foi completamente atingido, quem gostou de «300» decerto apreciará esta sequela. O filme tem uma vez mais como base a interpretação muito particular e altamente controversa que o autor de BD Frank Miller tem das invasões Persas, mas desta feita o volume em questão, que se chama Xerxes, ainda não foi publicado. O argumento desta feita abarca uma maior número de personagens e situações tendo porém como foco central o confronto entre as forças atenienses chefiadas pelo general Temístocles e as avassaladoras hostes do Deus-Rei Xerxes e da sua melhor comandante, a implacável, Artemisia, uma grega sedenta de vingança contra os gregos que lhe chacinaram a família. Visualmente muito rico e estimulante, o filme toma porém liberdades abusivas com a História, nomeadamente pondo o rei Dário a cair morto com uma flecha lançada por Temístocles, ou Artemisia como uma vítima de abusos de uma falange de hoplitas gregos. Na realidade segundo os historiadores, Dário morreu de doença quando preparava a 2ª invasão da Grécia, e Artemisia, que era de facto grega, era também rainha de Caria, uma província do império persa que contava com vários milhões de habitantes de origem helénica. Um dos grandes problemas com a perspectiva popularizada pelo cinema e pelo grosso da ficção literária sobre o período, e mesmo alguns académicos, é que a rivalidade entre as cidades-estado gregas e o império persa é vista como uma relação David/Golias, o que é senão errado pelo menos abusivo, e além disso David venceu Golias. A ideia que temos destas guerras milenárias vêm-nos essencialmente de fontes gregas, que naturalmente contam a história a seu modo. A verdade é que sempre que um dignitário grego caía em desgraça na sua terra, ele sabia que acabava sempre por ser acolhido na Pérsia, foi o que sucedeu com o ambicioso Temístocles que fruto de quezílias políticas em Atenas acabou por ter de se exilar na Pérsia, acabando os seus dias como súbdito do Grande Rei, não foi o único grego a fazer esse trajecto. Quanto a «300 – O Início de um Império», se esquecermos os abusos com os factos e o virmos como uma colorida fantasia histórica resulta particularmente bem no género de épico de fitas de sandália e hemoglobina. Destaque óbvio para a produção visual e para os estonteantes efeitos especiais, em termos do elenco Eva Green como a temível Artemisia come o écran e faz gato sapato de Sullivan Stapleton, que faz a sua primeira grande marca no cinema, depois de ter encontrado sucesso na série «Strike Back». Uma fita ideal para quem gosta dos seus filmes com muita acção e tingidos de vermelho.

Título original: 300: Rise of an Empire Realização: Noam Murro Elenco: Sullivan Stapleton, Eva Green, Lena Headey, Rodrigo Santoro Duração: 102 min EUA, 2014

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº19, Maio 2014]