De mulher para mulher, à boleia de um competente drama de ação. Em «Motel Valkirias», o acontecimento mais inesperado pode trazer a maior clareza em anos a três mulheres desconhecidas. O primeiro episódio estreia esta noite na RTP1, às 22h45.
“Certas divindades da mitologia que nos combates designavam os homens que deviam morrer”. É da boca de Carolina (Marina Mota) que ouvimos, pela primeira vez, a explicação do nome “Valkirias”, o nome do motel que é, também, uma metáfora daquela que será a jornada das protagonistas de «Motel Valkirias».
Lucía (María Mera), uma mãe em fuga com a filha, Carolina, a dona de um motel à beira da falência, e Eva (Maria João Bastos), uma atriz assombrada por um escândalo iminente, são colocadas em rota de colisão na nova série da RTP1, «Motel Valkirias», desenvolvida em parceria com a HBO Max e a Televisión de Galicia. Sem ligação inicial entre si, o trio fica mais próximo do que seria esperado na sequência de um acontecimento trágico que, pese embora traumatizante, pode ser a solução para os problemas económicos das três mulheres. Mas a que preço?
Com entoação literária, a narrativa começa por incutir no espectador a responsabilização. Como testemunha prévia, a audiência toma conhecimento de que uma personagem aparentemente banal e desinteressante vai ter uma importância grande no seguimento da história. Como tal, e à medida que as três protagonistas são introduzidas, há sempre uma “sirene” que se faz ouvir a cada novo surgimento do homem misterioso. O que será que lhe vai acontecer, afinal?
Entre Galiza e Portugal, «Motel Valkirias» vem provar, mais uma vez, que as histórias de máfia e ação não se escrevem apenas para homens, nem são estreladas somente por “tipos maus e duros”. Duas atrizes portuguesas, que dispensam apresentações, e uma atriz espanhola ocupam o lugar de destaque, num argumento bem conseguido, bem estruturado e apoiado numa trama com ingredientes, na quantidade certa, de drama, suspense e até ação. O argumento é da autoria de Patricia Muller, José Manuel Gancedo, Raquel Arias, Alba Araújo e Ghaleb Jaber. Já na realização encontramos Jorge Queiroga e Alex Sampayo.
Não obstante, e a fazer justiça, Marina Mota é um dos casos que merece destaque. Imagem de marca da comédia em Portugal nas últimas décadas, a atriz tem reclamado para si um lugar de mérito, que merece, entre as melhores e mais versáteis atrizes da sua geração. Mais uma vez, em «Motel Valkirias», a intérprete assume as rédeas da sua personagem, uma mulher sofrida e atormentada por uma desgraça no seu passado, e tem uma ligação intensa dentro e fora da câmara. Um papel que vem provar, ainda que já não fosse preciso, que Marina Mota não sabe apenas fazer rir (e como o faz bem).
Há qualidade na televisão portuguesa, e também nas colaborações com nuestros hermanos, pelo que «Motel Valkirias» volta a marcar um casamento feliz para a RTP. O piloto da série chega à HBO Max dia 1 de março.