«Censor» é um dos filmes sensação de 2021, cinema de terror de alto calibre que se cruza com o cinema independente para revelar uma realizadora, uma actriz e um filme a não perder.
A acção de «Censor» desenrola-se no início dos anos 1980 em Inglaterra, na ascensão ao poder de Margaret Thatcher e o histerismo público face aos Vídeo Nasties [72 filmes essencialmente de terror exploitation de produção amadora que foram banidos/confiscados em Inglaterra em 1982]. A industria do VHS que não estava regulada invade a Inglaterra e coloca todo o tipo de cinema ao alcance de todos, especialmente o cinema de terror. Os tabloides e os políticos aproveitam-se da situação para ligarem qualquer acto de violência aos Vídeo Nasties que estão a “corromper a sociedade”. Este é o ponto de partida de «Censor», os censuradores são a barreira entre o público e as versões explícitas. Enid Baines (Niamh Algar), a nossa protagonista, é uma mulher solitária que trabalha na censura dos filmes num exercício que vai fazendo mossa aquando da exposição das obras mais violentas. Um filme desperta o trauma adormecido de Enid que pensa ver uma actriz que poderá ser a sua irmã que desapareceu quando era criança. A obsessão por encontrar a irmã desaparecida e a exposição à violência e ao gore diluem a linha entre a realidade e a ficção de forma espantosa proporcionando um clímax memorável. Niamh Algar mergulha na personagem e imprime tensão psicológica, é uma espécie bomba relógio pronta a rebentar no ecrã. Niamh Algar é um nome a fixar, a irlandesa tem muitos desempenhos na televisão, veja-se o papel secundário em «Raised By Wolves», a actriz carrega invariavelmente uma intensidade que nos impressiona. A realizadora Prano Bailey-Bond fez furor com «Censor» no Festival de Sundance, este é o seu filme de estreia e o seu talento merece aclamação. A cumplicidade da argumentista e realizadora com a estrela Niamh Algar foi meio caminho para o sucesso da obra, a isso alia-se a inteligência dos planos, a atmosfera e a barreira que se quebram entre a realidade e a ficção. Estejam atentos ao brilhante design sonoro – não podendo ver o filme em sala, vale a pena colocar os auscultadores – a experiência é mais imersiva. A terminar, o filme teve a colaboração de Kim Newman, crítico, jornalista e autor, mais do que isso, uma instituição para quem adora o cinema.
