«Bruno Reidal – Confissões de Um Assassino», realizado por Vincent Le Port, é um filme inquietante e perturbador que parte de uma história real e nos faz entrar em alguns dos recantos mais obscuros da mente humana. O filme segue o relato na primeira pessoa de Bruno Reidal, um jovem seminarista que, em 1905, cometeu um assassinato brutal. A narrativa é estruturada em torno dos interrogatórios de Bruno depois de este se entregar voluntariamente à polícia. Enquanto ele relembra a sua infância e adolescência, a câmara vai-nos mostrando de forma fria e meticulosa a dureza das condições de vida no meio rural, a pobreza, os conflitos familiares e a austeridade (auto)imposta da sua breve passagem pelo Seminário de Saint-Flour. O uso do flashback é eficaz, permitindo ao espectador observar de longe a evolução e o carácter de Bruno e compreender, sem necessariamente justificar, os motivos que o levaram a cometer um acto tão monstruoso.

Ao invés de se concentrar no acto violento em si, o filme opta por explorar as tensões internas, os desejos reprimidos e a luta entre a fé e a violência que definem o protagonista. Essa escolha narrativa dá ao filme um viés psicológico denso, que pode talvez alienar parte do público pelo seu ritmo lento e introspectivo, exigindo paciência e uma disposição para mergulhar em alguns aspectos mais íntimos e desconfortáveis. Dimitri Doré, no papel principal, entrega-se numa actuação fascinante e assustadora, conseguindo transmitir a complexidade e o tormento interno de Bruno sem recorrer a exageros. A sua performance minimalista mantém o filme em constante tensão, refletindo o horror silencioso de um jovem assombrado pelos seus próprios impulsos.

Visualmente, o filme é marcado por uma fotografia sombria e atmosférica, que contribui para a sensação de claustrofobia e desespero que permeia toda a narrativa. As paisagens rurais, embora belas, parecem ao mesmo tempo sufocantes, reforçando o sentimento de isolamento e angústia do protagonista. «Bruno Reidal – Confissões de Um Assassino» provoca mais inquietação do que respostas imediatas, revelando-se, ao final, menos um estudo sobre o crime em si e mais uma investigação sobre os abismos da mente humana.

Título Original: Bruno Reidal Realização: Vincent Le Port Elenco: Dimitri Doré, Jean-Luc Vincent, Roman Villedieu Duração: 101 min. França, 2021

ARTIGOS RELACIONADOS
Estreia – A Prisioneira de Bordéus – Conversa com Patricia Mazuy (realizadora)

Alma é uma mulher burguesa com uma grande casa na cidade e Mina é uma jovem mãe que mora num Ler +

Crítica – ALL WE IMAGINE AS LIGHT – Estreia TVCine

Travelling lateral ao longo das margens densamente povoadas de uma megacidade, Bombaim, ou como agora gostam de lhe chamar, Mumbai, Ler +

Riddle of Fire

Em «Riddle of Fire», Weston Razooli estreia-se na realização de longas-metragens com uma aventura onde o maravilhoso, o absurdo e Ler +

Breve História de uma Família

E de repente, é da China que vem o grande cinema deste ano de estreias. A primeira surpresa foi «Cão Ler +

O Ano Novo Que Não Aconteceu

Primeira longa-metragem do romeno Bogdan Muresanu, «O Ano Novo Que Não Aconteceu» («Anul Nou Care n-a Fost»), 2024, concentra a Ler +

Please enable JavaScript in your browser to complete this form.

Vais receber informação sobre
futuros passatempos.