«Shadya» é realizado por Noora Niasari, foi o filme candidato da Austrália aos Óscares em 2003. Não é uma surpresa pela qualidade deste filme que perante uma situação dramática abre um mundo aos espectadores. Ficamos atónitos como é que esta obra não estreou numa sala de cinema em Portugal.

A história desenrola-se em 1995 na Austrália, uma mulher persa foge com a sua filha de uma relação abusiva com o seu marido iraniano. Shayda (Zar Amir Ebrahimi) e a sua filha Mona (Selina Zahednia) ficam numa casa de abrigo com outras mulheres que sofrem do mesmo problema.

Apesar desta contextualização «Shadya» não é um drama assolapado à sombra do crime hediondo da violência doméstica – esse espectro está presente na narrativa – mas a obra foca na coragem de uma mulher em agarrar a sua vida com a sua filha e procurar um futuro diferente. A realização de Noora Niasari é estupenda, mais tarde percebemos que este é um filme pessoal. Quem já passou por estas situações sabe que aquilo que está no ecrã é genuíno seja qual for a origem geográfica dos acontecimentos, é um problema transversal. A performance de Zar Amir Ebrahimi é tremenda no delicado equilíbrio entre ser mulher e mãe na afirmação da beleza perante a ameaça de um homem opressivo. O seu rosto vale mil palavras, é uma das grandes actrizes internacionais à espera da sua grande oportunidade, já tinha feito maravilhas em «Holy Spider» (2022). A sua performance de contenção tem a mesma força de ver a Ripley [de «Alien»] a lutar contra o monstro e a esmagá-lo com a sua determinação.

«Shadya» torna-se um grito de afirmação onde as mulheres devem se divertir, dançar e sorrir onde todos são livres para se sentirem bem. É também uma bela celebração da riquíssima cultura persa que vive há décadas sob o jugo de um regime opressivo.

Os diálogos são muito trabalhados e poéticos sobre a vida, a natureza e os sentimentos. É quase como estivéssemos a ler um livro em que sentimos a palavra e somos transportados para outro lugar, um lugar bonito e tranquilo perante tamanha dor e sofrimento para a mulher.

«Shadya» foi produzido pela australiana Cate Blanchett e tem uma dedicatória à mãe da realizadora e às corajosas mulheres do Irão. Eu diria que é uma obra que bem pode ser também dedicada a todas as mães corajosas que sofreram e superaram as mesmas ignomínias e protegeram-se a si e aos seus filhos de relações opressivas.

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