Fez parte dos filmes em competição pela Palma de Ouro na última edição do Festival de Cinema de Cannes, integrou a seleção oficial de festivais renomados, como Londres e Toronto, e foi a proposta do Senegal à lista de filmes propostos para Óscar de Melhor Filme Internacional. Mas a primeira primeira longa-metragem da realizadora franco-senegalesa Ramata-Toulaye Sy resume-se a duas palavras: beleza pura.
Banel (Kahdy Mane) e Adama (Mamadou Diallo) são um jovem casal que vive numa aldeia remota no Norte do Senegal. Estão perdidamente apaixonados e vivem um para o outro, mas a comunidade tem outros planos para Adama, que deverá assumir o papel de chefe da aldeia. Numa corrente modernista, Adama considera que não tem de aceitar esse cargo pois quer apenas viver o seu amor com Banel. Banel, por sua vez, não quer ser apenas mais uma mulher e assumir todos os afazeres que a “sociedade” delineou para ela. Mas poderão eles viver dessa forma? Poderão eles ir viver para umas casas soterradas em areia e ditas “amaldiçoadas”? Estará este amor também ele assombrado? Poderá uma paixão degenerar numa obsessão com consequências efetivamente trágicas?
De acordo com uma nota da realizadora, o propósito da sua primeira longa-metragem estava bem definido: “Eu queria escrever uma história de amor trágica; uma história em que todos se revissem. E queria que se desenrolasse no Senegal, o país dos meus pais. Vi-o como um gesto político (…) Quando estava a trabalhar no guião, tive a sensação de que a maioria dos filmes africanos contemporâneos abordava violência, guerra, terrorismo, pobreza… tudo de forma naturalista. O cinema de género teve dificuldade em encontrar o seu devido lugar. (…) Foi a partir desta reflexão que se tornou evidente o meu desejo de um filme universal, que falasse aos africanos, mas não só”.
De facto, Ramata-Toulaye Sy traz-nos uma história universal, mas condicionada a um universo que ela criou e que se assume como aquela que poderá ser a sua maior marca no futuro: uma capacidade incrível de entregar imagens simples, mas realmente impactantes. Além de uma cinematografia única, a realizadora assume um conhecimento intrínseco de uma comunidade que ainda vive segundo costumes e tradições que as novas gerações estão a tentar mudar, sem deixar de lado o aspeto mais espiritual e que tantas vezes ditou a sobrevivência destes povos e o seu percurso migratório.
Esta é uma história sobre uma visão distorcida que o amor entre duas pessoas pode assumir, é sobre o poder e a vontade de mudar “velhas” mentalidades, é uma chamada de atenção para as mudanças climáticas que o planeta atravessa, mas é também um legado sobre a beleza de imagens que o cinema pode oferecer e a clara evidência de uma realizadora que não podemos perder de vista.
Mais do que todos os atributos de storytelling, cinematografia e edição, «Banel & Adama» homenageia a beleza natural, a transcendência das cores e o impacto de uma realidade que acontece a quilómetros de distância, mas que se intrinca na universalidade do amor e das suas imensuráveis variáveis em qualquer ponto do planeta.
Título Original: Banel & Adama Realização: Ramata-Toulaye Sy Elenco: Kahdy Mane, Mamadou Diallo Duração: 87 min. Senegal, 2023