stérix & Obélix: L'Empire du Milieu

ASTÉRIX & OBÉLIX: O IMPÉRIO DO MEIO

ASTÉRIX & OBÉLIX: O IMPÉRIO DO MEIO

Até ao dia em que esta crítica foi redigida e revista, o refrescante «Astérix & Obélix: O Império do Meio», aventura de tons cómicos daquela de desopilar os poros entupidos pela angústia do dia a dia, vendeu 4.573.183 ingressos. É um motivo de festa em um país que viu suas cifras tombarem durante a pandemia. É uma comemoração também para o seu realizador, Guillaume Canet, um cineasta subestimado, muito mais hábil do que se faz crer nas resenhas contraditórias à sua estética pop. «Laços de Sangue», thriller realizado por ele em 2013, com um elenco anglo-saxão (James Caan está nesse barco) já era um achado. Achado que expunha a natureza autoral temática de Canet: falar da lealdade em situações de perigo extremo.

Muitos perigos cercam Astérix no seu filme. Mas ele, no mundo real, é acossado por uma acirrada concorrência com a Marvel e a DC. Mas, pelo que se vê, foi capaz de driblar todos os seus adversários. Desde a sua primeira aparição, nas páginas da revista “Pilote”, sob os auspícios do argumentista René Goscinny (1926-1977) e do ilustrador Albert Uderzo (1927-2020), Astérix sempre foi uma marca de sucesso, não importa em que media, demonstrando (com o seu bom humor tipicamente europeu, mas, universal) uma centelha de heroísmo do qual os franceses se orgulham, infalível na banda desenhada e no cinema. Não é por acaso, no momento em que a França mais precisa de ajuda para reaver o público que a covid-19 afastou das salas de projeção, o gaulês volta glorioso às telas, enchendo os cofres dos exibidores da pátria presidida por Emmanuel Macron. Desde a sua estreia, a dia 1 de fevereiro 2023, «Astérix & Obélix: O Império do Meio», com Canet também no papel principal, lota sessões, com uma arrecadação estimada em US$ 41 milhões.

Em anos transatos, Astérix já fez as salas da sua pátria lucrarem a rodos. Em 2002, quando o gaulês estrelou “Missão: Cleópatra”, 14 milhões de franceses compraram ingressos para prestigiar o personagem de Uderzo e Goscinny. Antes, em 1999, quando Gérard Depardieu assumiu o papel de Obélix, numa hilariante versão em carne e osso do quadrinho, 8,9 milhões de pagantes foram assistir à sua aventura.

Além do contagiante desempenho de Canet como Astérix (numa divertida atuação), o seu amigo pessoal e muitas vezes colega de tela Gilles Lellouche, galã, diretor e ás de arrecadações milionárias (vide «Ou Nadas ou Afundas», 2018), encarna Obélix com o carisma a mil. O papel do Imperador César, eterno vilão das bd´s do personagem, foi confiado a Vincent Cassel. E ainda há uma Cleópatra encarnada por Marion Cotillard, a diva da obra de Canet. A química entre Marion e Canet, no grande ecrã, é das mais eficazes em termos de mobilização popular, como prova a parceria deles em fenómenos de faturação como «Pequenas Mentiras entre Amigos» («Les Petits Mouchoirs», 2010) e a sequela «Pequenas Mentiras Entre Amigos 2» («Nous Finirons Ensemble», 2018), vistos por 5,3 milhões de pagantes e 2,7 milhões de espectadores respectivamente.

Amparado numa direção de arte requintada, de colorido saturado, «L’Empire Du Milieu» (“O Império do Meio”) narra a confusão aberta com a chegada da filha do imperador chinês, que foge do seu reino e pede ajuda aos gauleses para poder ser livre de amarras políticas familiares. Astérix e Obélix vão ajudá-la, mas terão de usar os seus poderes ao máximo para encarar os desafios políticos e éticos impostos por César e outros adversários. Vale a pena destacar a participação hilariante do futebolista Zlatan Ibrahimovic, na pele de Antivirus.

Título original: Astérix & Obélix: L’Empire du Milieu Realização: Guillaume Canet Elenco: Guillaume Canet, Vincent Cassel, Gilles Lellouche, Marion Cotillard, José Garcia Duração: 112 min. França, 2023

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº93, Maio 2023]