Na sua sétima edição, o festival “Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival” regressa ao Cinema S. Jorge, em Lisboa, e à plataforma online Filmin, entre os dias 23 e 29 de novembro. Este ano também os anfiteatros do ISCTE-IUL receberão iniciativas a decorrer durante o festival. Considerado um “festival de cinema no feminino”, a edição deste ano volta a trazer algumas das melhores obras realizadas ou produzidas por mulheres, oriundas do Mediterrâneo, ou que trabalhem em países mediterrânicos. São mais de 50 filmes provenientes de 25 países, Portugal incluído, estando a maioria das obras em estreia nacional. Este ano, o evento torna-se ainda mais especial devido à integração do projeto “Awareness and Empowering”, financiado pela Anna Lindh Foundation, com o objetivo de “promover o trabalho das mulheres na indústria cinematográfica e debater a possibilidade de promover alterações sociais através dos filmes e festivais de cinema.” Este projeto educativo visa criar uma rede de festivais que envolve parceiros de Espanha, França, Itália, Líbano, Marrocos, Palestina e Turquia. Para dar voz e presença a este manifesto, o festival prevê, ainda, um intenso programa de mesas redondas, masterclasses e workshops, que começa a 23 de novembro no ISCTE-IUL para depois continuar no Cinema São Jorge.

Na sessão de abertura, a 25 de novembro, o festival exibirá o filme de Teona Strugar Mitevska, “God Exists, Her Name is Petrunya”, com Zorica Nusheva no principal papel. Esta coprodução da Macedónia do Norte, Bélgica, Eslovénia, Croácia e França, foi candidata ao Urso de Ouro na 69.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim e vencedora do Prémio
Lux de Cinema do Parlamento Europeu. O encerramento ficará a cargo de “A Thief’s Daughter”, da espanhola Belén Funes, vencedora dos Prémios Goya e Gaudí como Melhor Nova Realizadora.

Para ficar a par de todos os pormenores, a METROPOLIS falou com Sara David Lopes, da Direção do Festival.

Naquela que é a sétima edição deste festival, e numa altura tão peculiar como a que atravessamos, o que vos motiva a manterem este festival, de tão extrema importância?
SARA DAVID LOPES: Precisamente o acharmos que é muito importante continuar a divulgar o trabalho das mulheres que, através do cinema, questionam o mundo e o que nos rodeia. Numa época em que tudo nos impele a fechar e a isolar, consideramos que ações como esta têm um papel fundamental para manter a ligação entre as pessoas e entre estas e o mundo.

«God Exists, Her Name is Petrunya»


Este ano, contam também com o financiamento da Fundação Anna Lindh e, de alguma forma, toda a vossa missão se torna ainda mais abrangente e forte. Como surgiu esta oportunidade?
SARA DAVID LOPES: Este financiamento é fruto de uma candidatura que apresentámos e que veio ao encontro de uma ideia que já tínhamos: a de criar mais ligações com festivais de mulheres e entidades que promovam o trabalho das cineastas. Na montagem do projeto, contactámos uma série de parceiros relevantes espalhados pela bacia mediterrânica, com a proposta de criarmos uma rede que virá a estar sustentada por um website. O projeto – a que chamámos Awareness and Empowerment – é uma parceria liderada pelo Festival Olhares, que envolve oito outros parceiros de sete países, a saber: Mostra Internacional de Films de Dones de Barcelona (Espanha), Films Femmes Méditerranée (França), Some Prefer Cake – Bologna Lesbian Film Festival (Itália), Beirut Film Society e Films Femmes Francophones Méditerranée (Líbano), Association de Culture et d’Education par l’Audiovisuel (Marrocos), Shashat Woman Cinema (Palestina) e Flying Broom International Women’s Film Festival (Turquia).

Trata-se de um projeto que inclui o Festival, mas que vai muito para lá dele, uma vez que prevê a execução de atividades em Marrocos, coorganizadas com o nosso parceiro marroquino. A ideia original era ter durante o Festival, como ponto de partida e com a participação presencial de todos os parceiros, uma intensa semana de filmes, mesas redondas, masterclasses e workshops. Estas teriam o objetivo de partilhar experiências sobre como promover o trabalho das mulheres na indústria cinematográfica e debater a opção de promover alterações sociais através dos filmes e festivais de cinema. Infelizmente, a situação atual obrigou-nos a reagendar muitas destas atividades, muito embora tenhamos escolhido três para acontecerem de qualquer modo durante o Festival. Mantém-se o plano de as transmitir em direto e de as alojar nas nossas redes sociais, ou seja, acontecem quando acontecerem.

«Boriya»


O festival continua a ser uma mostra de filmes realizados ou produzidos por mulheres da bacia do Mediterrâneo, mas com todas as questões que são debatidas, quer nos filmes, quer nas atividades paralelas que têm vindo a crescer, existe aqui uma possibilidade de este festival se tornar algo ainda “maior”? Tipo, um movimento? Uma comunidade? Como veem o futuro do mesmo?
SARA DAVID LOPES: Parece-nos evidente que há espaço para isso e muito mais. Porém, dadas as condições logísticas atuais do Festival, temos uma postura algo cautelosa relativamente ao que conseguimos concretizar. Preferimos ir avançando devagar e organizar ao longo do ano as ações possíveis. O nosso objetivo principal – que não queremos perder de vista – é o cinema e a forma como através dele se pode pensar o mundo e, consequentemente, criar nele algum impacto. Daí darmos muita atenção às sessões para as escolas e à criação de novos públicos. Nessa medida, por exemplo, além das habituais sessões para as escolas que este ano serão presenciais e online, este ano temos uma sessão de formação para professores de todos os níveis de ensino que visa precisamente criar instrumentos de trabalho que permitam aos professores usar o cinema como elemento transformador e questionador. Ainda a nível da promoção de um alargamento de públicos, temos este ano, exclusivamente na FILMIN, uma sessão para a qual programámos cinco das nossas curtas portuguesas e que terão uma pista de audiodescrição para cegos ou pessoas com visibilidade diminuída e legendas para surdos.

Por outro lado, a estrutura do Festival é muito flexível e permite certamente uma ampliação e uma associação a movimentos que se alinhem connosco. É também dessas sinergias que o Festival tem sido feito. Por isso, quem sabe?

«Cildren´s Lake»


Poderá algum dia tornar-se um “Olhares no Feminino” do “mundo?
SARA DAVID LOPES: Se a pergunta é se um dia alargaremos o festival para lá do Mediterrâneo, penso que para nós isso não é muito importante. Gostamos da ideia de acolher este Mediterrâneo do qual fazemos parte por empatia e é também isso que nos distingue, no panorama dos festivais nacionais. Isso não exclui a possibilidade de programar filmes que pela sua temática ou interesse entendamos serem interessantes. Dou o exemplo do filme de abertura deste ano que, sendo da Macedónia, vai abrir o nosso Festival, pois entendemos que a temática abordada faz dele um excelente cartão de visita do Festival.

Este formato que este ano todos os festivais têm seguido, de manterem a programação online, como vai funcionar? Os lives das atividades paralelas são abertas a todas as pessoas? São grátis? Os filmes do festival estarão todos depois disponíveis, na segunda fase do festival, no Filmin? Quais os preços?
SARA DAVID LOPES: Felizmente para nós, o Festival é agora em novembro, o que nos deu muito tempo para pensar e programar tudo isso. Decidimos há muito tempo, antes do verão até, que íamos aligeirar as sessões presenciais (reduzimos de 17 o ano passado para 11 este ano) e exibir exclusivamente online duas das secções: a competição de curtas e a secção de filmes de escola, Começar a Olhar. Isso deu-nos mais espaço para implementar as atividades do projeto “Awareness and Empowerment” que, pela sua natureza internacional, tanto a nível de participantes como de público alvo, foram programadas desde o início para ter transmissão em direto. Estas atividades podem ser acompanhadas gratuitamente online.

Quanto aos filmes, estarão todos na FILMIN (à exceção do filme de encerramento), num canal próprio do Festival, de 26 de novembro a 10 de dezembro. O acesso ao nosso canal será gratuito para os subscritores da FILMIN. Os não-subscritores poderão aceder a todo o Festival mediante registo na plataforma e um pagamento único de 7,5€ que lhes dará acesso a todos os filmes do canal.

«Matriockas»



Gostariam de destacar algum filme/s ou momento/s do festival? Ou alguma novidade substancial em relação a anos anteriores?
SARA DAVID LOPES: Destacar filmes é sempre uma tarefa ingrata. Este ano, preferimos destacar as sessões presenciais e os três debates que elas vão gerar no Cinema São Jorge, porque entendemos que é muito importante continuar a assistir aos filmes em sala. Trata-se de um sector que tem sido muito castigado por esta pandemia e que tomou todas as medidas necessárias (quer quanto à higienização, quer quanto à lotação e disposição das salas) para que se possa ver um filme no grande ecrã com toda a segurança. E do ponto de vista da organização, nada supera a visão de uma sala cheia!

Em que medida esta pandemia veio transformar a vossa visão deste tipo de eventos para o futuro?
SARA DAVID LOPES: Esperamos que esta situação não se arraste por muito mais tempo, claro, mas não é improvável que certas medidas que hoje são consideradas indispensáveis continuem a vigorar. O que torna tudo mais difícil, do ponto de vista da conceção e organização, é mesmo a indefinição. Quando as coisas estabilizarem, seja em que direção for, tornar-se-á mais fácil programar. Queremos acreditar que vai voltar a ser possível organizar eventos culturais com qualidade e diversidade, porque a cultura – nas suas múltiplas expressões – é um bem vital, indispensável à boa saúde mental de qualquer um e não deve ser encarada como um bem de segunda necessidade.

E em que medida acham que este momento mundial vai afetar o cinema dos próximos tempos?
SARA DAVID LOPES: Temos estado sempre a falar da reta final, que é a exibição de filmes. A montante disso está a sua conceção e produção. Essa é uma área que está a ter o seu trabalho muito dificultado, porque a pré-produção de um filme exige uma intensidade e proximidade que não são muito compatíveis com as restrições impostas pela pandemia. E o cinema independente, que é aquele que mais representamos, ressente-se particularmente, porque a somar às dificuldades financeiras e logísticas que já costuma enfrentar, vêm os constrangimentos impostos pelas medidas de segurança. Esperamos que as soluções encontradas sejam tão criativas quanto produtivas e aguardamos com expectativa os filmes que nos vão enviar no próximo ano!

Devido às novas medias do Estado de Emergência, é importante seguir alterações à programação que possam surgir através do site: https://www.olharesdomediterraneo.org/programa-dia-a-dia-2020/

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