O Ódio

O ÓDIO

O ÓDIO

Dirigido em 1995, «O Ódio» a segunda longa-metragem de Mathieu Kassovitz, viria a granjear muita controvérsia e vários prémios, entre eles o prémio de melhor realizador no Festival de Cannes e três Césares, entre eles o de melhor filme.

A controvérsia surge do modo como Kassovitz escolheu retratar o quotidiano de jovens franceses filhos de emigrantes que vivem nos bairros sociais – as zonas de urbanização prioritária, dos arredores de Paris onde a esperança de uma vida melhor é pouco mais do que uma miragem.

A narrativa abraça cerca de 24 horas da vida de três jovens filhos de emigrantes, na casa dos vinte anos, que no rescaldo de um motim, resultado do ataque a um jovem árabe pela polícia, vão-se ver confrontados com o lado mais extremo do seu mundo e das suas personalidades. A atmosfera tensa ganha uma outra dimensão quando Vinz, o mais exaltado do trio, descobre a arma que um polícia perdeu durante o motim. Vinz jura usar a arma para matar um polícia se o jovem agredido pela polícia morrer. A sua raiva e ódio são algo de palpável, Vinz está á beira do abismo e emula as poses de Robert De Niro no emblemático «Taxi Driver», o grito de raiva de um desvalido da vida. Hubert, um jovem negro, dono do ginásio que ardeu no motim e traficante de droga do bairro, contrasta na sua postura com o exaltado Vinz. Hubert é o mais calmo e ponderado dos três, desejando ardentemente escapar a este mundo de ódio e violência mas não sabendo como o fazer. Entre as duas posições algo contrastantes temos ainda a visão de Said, um jovem de ascendência magrebina que procura navegar entre as posições bastante diversas dos seus dois amigos. Decidindo ir até Paris, onde dão largas ás suas frustrações de modo pouco recomendável, e onde lidam com o racismo de skinheads e a acção de um polícia sádico, o trio perde o comboio de volta ao seu gueto e é obrigado a passar a noite na cidade. Porém a alvorada vê-os de regresso ao seu território e a um novo confronto com um polícia que irá mudar para sempre as suas vidas.

Nos seus primeiros filmes, dos quais este é sem dúvida o mais conseguido, Matthieu Kassovitz explorou de forma bastante coerente e impressionante as contradições da sociedade ocidental face á sua comunidade emigrante que se bem produza muita riqueza, apenas aufere migalhas, sendo os seus membros tratados como cidadãos de segunda classe. O ódio alimenta o ódio, diz uma das personagens, e é esse ciclo vicioso que Kassovitz retrata de forma brilhante e contundente neste drama inesquecível, cuja temática permanece hoje tão actual como há quase 20 anos. Destaque especial para a realização e argumento, para a extraordinária fotografia a preto e branco e para Vincent Cassel, num desempenho visceral.

La Haine Realizador: Mathieu Kassovitz. Elenco: Vincent Cassel, Hubert Koundé, Saïd Taghmaoui. Duração: 98 min. França, 1995