É uma “reposição de Verão”, mas é sobretudo a primeira vez que a obra completa de António Reis e Margarida Cordeiro, agora digitalizada na íntegra pela Cinemateca, é mostrada em Lisboa fora das estreitas paredes da Rua Barata Salgueiro.
É uma obra pequena em número, mas uma das mais fulgurantes do cinema português ou do cinema tout court.
Uma obra que nos anos 70/80 marcou de forma indelével a maneira como o cinema português filmava o país (e em particular a região de Trás-os-Montes) e que nunca mais foi igualada.
Uma obra que teve um brutal impacto internacional, mas que entre nós foi primeiro pouco conhecida e vista e depois permaneceu quase secreta.
António Reis em particular, e também pela sua actividade como professor da Escola de Cinema, não tendo deixado herdeiros marcou de maneira decisiva muitos então jovens realizadores portugueses (Vitor Gonçalves, Manuel Mozos, João Pedro Rodrigues e muito em particular Pedro Costa, que nunca se cansou de lembrar o nome e a presença de Reis).
Na semana de 7 a 12 de Agosto o Ideal apresenta todos os filmes, as suas 3 longas-metragens e a curta Jaime.
Tal como a Cinemateca os apresentou, quando em Maio anunciou a disponibilidade dos filmes para poderem ser de novo vistos nos cinemas, depois de décadas de uma dramática invisibilidade:
“… a Cinemateca digitalizou as três longas-metragens de António Reis e Margarida Cordeiro: TRÁS-OS-MONTES (1976), ANA (1985) e ROSA DE AREIA (1989). Este gesto contribuiu para um renovado fôlego de um dos percursos mais singulares do cinema português, construído em íntima relação com a paisagem, a memória e a vida do povo de Trás-os-Montes, território que é também matéria sensível destas obras.
António Reis, poeta e cineasta, e Margarida Cordeiro, médica psiquiatra, desenvolveram um cinema de uma intensidade rara. TRÁS-OS-MONTES, o primeiro filme da dupla, é uma viagem pelo interior da região, onde realidade e fabulação se entrelaçam, desafiando as fronteiras do documentário e da ficção. ANA, centrado na figura de uma mulher idosa – interpretada pela própria mãe de Cordeiro -, prolonga esse olhar sobre a experiência do tempo e da memória, num registo mais íntimo e contemplativo. ROSA DE AREIA, a última longa-metragem que realizaram em conjunto, é uma obra de grande liberdade formal, onde os fragmentos de histórias, paisagens e rituais se acumulam como vestígios de uma civilização imaginada.”
Em 1994, e reagindo a declarações da à época presidente do Instituto Português da Arte Cinematográfica e Audiovisual, Pedro Costa enviou uma carta para o jornal Público: “Dra. Zita Seabra, Tendo tomado conhecimento, através do Público da passada segunda-feira, 5 de Setembro, de afirmações que lhe são atribuídas sobre o cineasta António Reis, nomeadamente a de que “em todas as épocas as vanguardas foram incompreendidas e tiveram de penar”, gostaria de lhe sugerir o seguinte: preserve os negativos e promova a tiragem de cópias novas de Jaime, Trás-os-Montes, Ana e Rosa de Areia. Leve estes filmes na bagagem nas suas próximas deslocações a Cannes, Berlim, Veneza ou São Francisco. Gaste algum do seu tempo livre e mostre-os. Suba aos palcos e relembre António Reis como um dos maiores cineastas contemporâneos. Receba os aplausos e comova-se. Vai ver que não se envergonha. Há coisas que não se esquecem.”
Esta semana com os filmes de António Reis e Margarida Cordeiro (que poderá ser repetida mais tarde) é a primeira iniciativa de outras com grandes cineastas portugueses que se irão concretizar durante a segunda metade deste ano de 2025.
Calendário (19:00)
TRÁS-OS-MONTES, 1976
Quinta 7 e Domingo 10
ANA , 1982
Sexta 8 e Segunda 11
ROSA DE AREIA, 1989 + JAIME, 1974
Sábado 9 e Terça 12