Margot (Emilia Jones, “No Ritmo do Coração), uma universitária de vinte anos, conhece Robert (Nicholas Braun, “Succession” e “Zola”), de 34 anos, no cinema onde trabalha. Depois de namoriscarem um pouco ele pede-lhe o número e então têm longas conversas através de mensagem. Margot considera as mensagens de Robert giras e engraçadas, mas ele é confrangedor e inescrutável sempre que se veem. À medida que a relação evolui, o equilíbrio de poder entre os dois pende para cá e para lá, e Margot tanto vê Robert como um homem adorável como ameaçador. Quando as perceções que têm um do outro colidem, as coisas descontrolam-se resultando numa conclusão potencialmente mortífera.
Susanna Fogel (“The Flight Attendant” e “The Wilds”) realiza este thriller sobre os horrores de namorar no século XXI, a partir do conto aclamado de Kristen Roupenian publicado em “The New Yorker”.
DECLARAÇÃO DO REALIZADOR
Quando a New Yorker publicou o conto Cat Person, de Kristen Roupenian, causou um caos inesperado no Zeitgeist. O que inicialmente parecia ser uma pequena história, perfeitamente observada, sobre um breve encontro romântico entre uma rapariga de 20 anos e um homem de 30 e tal anos, tornou-se um para-raios de debate. Homens e mulheres discutiram quem era o culpado na história, se a perspetiva sobre o sexo era injusta para os homens, se a própria crítica era injusta para as mulheres, e assim por diante. O fervor sobre Cat Person tornou-se a narrativa, o que, a um nível meta, provou que ainda não acabámos de falar sobre questões de encontros e sexo. Também indicou que as histórias sobre disfunções subtis nos encontros sexuais podem ser igualmente, se não mais, provocadoras do que as histórias em que há um vilão e uma vítima claros. A argumentista Michelle Ashford teve a visão de adaptar este material de base e interno como um thriller de género, que nos leva a pensar que estamos a assistir a um filme sobre relações e que depois se transforma num pesadelo ao ruminar sobre falhas de comunicação e dinâmicas de género.
Como cineasta, Cat Person era um projeto de sonho para mim. A minha obsessão é mostrar as nuances das relações humanas e elevar essas histórias através de narrativas de género. No meu último filme, mostrei uma ligação inquebrável entre dois melhores amigos através do prisma de um filme de ação com uma contagem de corpos na casa dos 40. Desta vez, usei elementos de thriller psicológico para estudar todas as mensagens contraditórias que as mulheres recebem sobre os homens. Somos educadas para obedecer aos homens e apaziguá-los, é suposto olharmos para eles com desconfiança e medo e assumirmos que são todos problemáticos, e não esquecer os milhares de anos de narrativas na literatura, no cinema e na história que nos dizem para nos apaixonarmos por eles. Igualmente intimidante é a conversa em torno do consentimento: a nossa cultura atual diz-nos que somos responsáveis por afirmar exatamente o que queremos, como se fosse suposto qualquer ser humano saber sempre exatamente o que quer. Numa nota relacionada, também queria meditar sobre a forma como as mulheres comunicam mal por um desejo de evitar conflitos, e como isso muitas vezes aumenta a dinâmica tóxica e se torna uma profecia auto-realizável
Ao mesmo tempo, era igualmente importante para mim não fazer outro filme que vilipendiasse os homens sem dimensão ou empatia pelo seu lado das coisas e pela confusão que enfrentam, especialmente na cultura atual. Hoje em dia, muitos homens sentem que, de repente, estão a ser injustamente vilipendiados e castigados pelos erros dos piores actores entre eles. O resultado é muitas vezes uma raiva, confusão e ressentimento que perpetuam o mau comportamento. Espero que, tal como as mulheres se identificam com os medos e as falhas de Margot, o público masculino que se considera bom rapaz e aliado dos homens se identifique calmamente com aspectos de Robert, porque o seu comportamento não é abertamente vilanesco. Afinal de contas, Robert também acredita que é uma boa pessoa.
Cat Person não é um filme sobre agressões; é um filme sobre dinâmicas tóxicas mais subtis entre os géneros que são, de facto, muito mais difundidas. O diabo está nas nuances das interações de Margot e Robert. As agressões, intimidações e retaliações em pequena escala entre os géneros estão sempre escondidas à vista de todos, e são o ponto central deste filme, mesmo quando as personagens se encontram literalmente a lutar pelas suas vidas. Espero que, à semelhança do conto, Cat Person, o filme suscite um debate vigoroso, inspirando-nos a todos a refletir sobre os nossos próprios sentimentos em relação ao poder e à intimidade. Espero também que as pessoas se riam, se apertem nos braços e se encolham com o embaraço de reconhecerem coisas que disseram e fizeram.
BREVEMENTE NOS CINEMAS