«A Vida de Chuck», realizado por Mike Flanagan, é um filme cândido e nostálgico, que nos convida a olhar para a vida, para a passagem do tempo e o impacto que cada um de nós tem no mundo. Inspirado num conto de Stephen King, conhecido como mestre do terror, o filme surpreende com um registo inesperadamente luminoso e intimista, onde o puzzle emocional se constrói a partir dos pequenos gestos, das memórias partilhadas e da beleza discreta do quotidiano.
Em vez do habitual crescendo dramático, começa-se pelo fim – ou pelo princípio do fim – e vai-se desvendando, a pouco e pouco, a vida aparentemente banal de Chuck. É este artifício que gera um subtil suspense: quem foi este homem, aparentemente anónimo, cuja ausência deixa um vazio no mundo? Mas o mais marcante não é tanto a construção narrativa – engenhosa e eficaz –, é o tom que atravessa o filme: uma visão optimista e humanista que hoje em dia não se encontra com facilidade no cinema – nem, sejamos honestos, fora dele.
Num tempo em que a ideia de futuro parece constantemente assediada pelo medo e pela incerteza, um filme como este recupera, discretamente, o valor das pequenas utopias quotidianas. Não se trata de grandes ideais abstractos, mas daquele horizonte modesto que nos permite continuar a acreditar na possibilidade de uma vida com sentido, partilhada com os outros. É pouco? Não sei…
Flanagan filma com uma ternura rara e aposta na beleza de um gesto, uma memória, um encontro improvável, um passo de dança improvisado, um olhar cúmplice, uma recordação de infância. Num mundo saturado de catástrofes e distopias, este filme oferece, com singeleza, um pouco de luz. Como escreveu Eduardo Galeano, “Deixemos o pessimismo para tempos melhores…”
Título Original: The Life of Chuck Realização: Mike Flanagan Actores: Tom Hiddleston, Jacob Tremblay, Benjamin Pajak Duração: 111’ Ano: 2024 Origem: EUA

