Dag Johan Haugerud realizou três filmes num ano. O objectivo era deleitar-se num projecto grandioso, “ou um filme muito longo composto por muitas personagens, ou uma trilogia de uma só vez” (BOMB Magazine). Tida como a trilogia de Oslo – «Sex Dreams Love» [«Sex, Drømmer, Kjærlighet»], estes três filmes auscultam os impulsos e desejos humanos contemporâneos, enfrentando as suas preocupações de forma entrecruzada no que diz respeito à fluidez de conceitos de género, amor e sexualidade. E o cineasta fá-lo com uma leveza desigual, doce e sempre empática. Poderá até parecer sinistro quão tremeluzentes estes filmes se fazem sentir. Palpitam como as asas de uma borboleta que explora um lugar fora da sua zona de conforto. «Sex», o primeiro capítulo, é particularmente esvoaçante. Talvez até demasiado.
Depois de se estrear no Festival de Berlim em 2024, «Sex» viajou pelo circuito de festivais e estreia-se agora comercialmente pelas salas de cinema do país. Dos três, apresenta-se como o filme mais pedagógico e, ao mesmo tempo, em termos tonais o mais alheado à força do que procura dizer. Tendo como ponto de partida uma conversa entre Feier (Jan Gunnar Røise) e o seu supervisor Avdelingsleder (Thorbjørn Harr), ambos limpa-chaminés, sobre um encontro sexual entre Feier e um cliente na noite anterior, «Sex» desenvolve-se em torno de encontros confessionais entre os dois homens, ambos em casamentos heterossexuais e monogâmicos há muitos anos. Enquanto o casamento de Feier se desmorona, para espanto do mesmo, Avdelingsleder debate-se com um sonho recorrente com David Bowie, no qual o músico o olha “como uma mulher”.

A temática não podia ser mais pertinente. E por mais que se estranhe a absoluta civilidade com que os bolsos de diálogos se desenrolam, não será esta a causa para o desapaixonar do espectador no final. Para além da linguagem gramatical dos seus planos ser meramente expositiva, denunciadora até de falta de imaginação, e a sua palete de cores imune a contrastes que levem o espectador ao seu encontro, o confronto com o não-binarismo da identidade sexual e de género destes dois homens dissolve-se no vazio, nunca atingindo qualquer pico catártico. Tudo permanece surpreendentemente distante.
Em retrospectiva, o clarão esbranquiçado que induz no ecrã, mudo de personalidade, espelha que nem na incerteza estes homens encontram inflamação. Uma banda sonora composta por sintetizadores luzidios também não ajuda a irromper visceralidade. «Sex» invisualiza qualquer comoção. Curioso como um filme com nervos cerebrais, que promete um debate sobre as contradições humanas, se consegue deitar no entorpecimento com tanta facilidade. Há a descoberta da vergonha aqui. Mas não há quentura.
TÍTULO NACIONAL: Sex (Love Dreams) TÍTULO ORIGINAL: Sex REALIZAÇÃO: Dag Johan Haugerud ELENCO: Jan Gunnar Røise, Thorbjørn Harr, Siri Forberg ORIGEM: Noruega DURAÇÃO: 118 min. ANO: 2024

