«Éden», realizado por Ron Howard, inspira-se em factos verídicos para recriar a fascinante história de um grupo de colonos europeus que, nos anos 1930, tenta construir uma nova vida na ilha deserta de Floreana, nas Galápagos. Movia-os o desejo de um recomeço absoluto, longe da civilização, num momento em que a Europa mergulhava em mais uma crise profunda, com a ameaça da guerra a pairar de novo sobre o velho continente e os fantasmas do fascismo a crescer dia após dia.
É neste contexto que o filme nos convida a uma reflexão sobre a hipótese de começar do zero. Será possível inventar uma nova civilização sem cair nos mesmos erros? A resposta parece ser ambígua. Os primeiros colonos, Friedrich e Dora, fogem dos vícios da sociedade moderna, aspirando a um modo de vida mais “puro”, mas a chegada da família Wittmer — entre eles, Margret, numa interpretação notável de Sydney Sweeney — e, depois, a entrada em cena da exuberante e manipuladora Baronesa (Ana de Armas), vai perturbar este ideal já por si bastante frágil. Em Floreana, como em qualquer lugar da Terra, o principal inimigo não é a natureza selvagem, mas sim a natureza humana.
No meio da erupção do caos e da violência, Margret emerge como o coração humano da história. Ela encarna, com uma força contida e genuína, a capacidade de resistir e sobreviver. A chegada ao mundo do seu filho em condições extremas é um dos momentos mais viscerais do filme. Em torno dela, o filme progride de forma segura, mas não se coíbe de alguns excessos melodramáticos ou caricaturais, como no caso da Baronesa.

Mesmo com falhas, «Éden» oferece aos espectadores uma experiência interessante sobre a utopia da tabula rasa. Longe de garantir o paraíso, revela-se uma ilusão perigosa. Os mesmos traços humanos — ambição, medo, controlo — emergem irresistíveis, mostrando que os erros do passado podem, sim, repetir-se e, quem sabe, ainda com mais crueldade.
Num lugar que parece engolir ideais, Margret torna-se um símbolo de esperança: mesmo quando todos falham, ainda é possível deixar uma marca de dignidade, inteligência e coragem. A pergunta final do filme não é se podemos evitar os mesmos erros, mas se podemos sobreviver-lhes e seguir, apesar deles.
Título Original: Eden Realização: Ron Howard Actores: Jude Law, Ana de Armas, Vanessa Kirby, Daniel Brühl, Sydney Sweeney, Richard Roxburgh Duração: 129’ Ano: 2024 Origem: EUA

