Em 2005, após Hollywood esgotar a fórmula dos teen slasher movies e os remakes de filmes de terror japonês, chegou o tempo dos remakes dos filmes de terror das décadas passadas («O Nevoeiro», «Amityville»). A nova tendência também faz ênfase no terror explícito, veja-se Eli Roth («A Cabana do Medo», «Hostel») ou o sucesso estrondoso de bilheteiras de «Saw».
«The Hills Have Eyes» foi um filme realizado por Wes Craven em 1978. Na altura, Craven desenhava alguns contornos cinematográficos do pai do terror moderno, inventando «Pesadelo em Elm Street» (e voltou a reinventar o género dez anos depois, com «Gritos»). Quando os executivos da Fox e Wes Craven decidiram efetuar o remake, era necessário encontrar quem o podia trazer de novo ao grande ecrã. Alex Aja, para mim o mais promissor jovem cineasta deste género, editou juntamente com o seu parceiro Gregory Levasseur (argumentista) o perturbador «Alta Tensão», editado em 2005 em Portugal apenas em DVD. Se não viram, é obrigatório, uma hora e meia non-stop de puro terror. O filme, pelos vistos, não só impressionou o público, como deixou Wes Craven certo de ter encontrado em Alex Aja o realizador para «Terror nas Montanhas».
Este filme é inspirado numa macabra história do século XVII na Escócia. Uma família de meia centena de elementos assaltava, violentava e comia os viajantes que na altura passavam pelas suas terras. Wes Craven decidiu transpor estes acontecimentos para o seu filme de 1978. Uma família americana, neste caso os Carter, passeia pela América profunda, quando um desvio vai colocar esta família numa situação extrema. Eles são confrontados com uma família de mutantes que vive nas montanhas e que foi afectada por um desastre nuclear nos anos 60. Eles apenas procuram vítimas para alimentar (literalmente) os seus vícios.

Que transformações vão sofrer os indivíduos da família Carter quando confrontados com a família “nuclear”? Numa situação extrema, o mais pacato dos indivíduos não apenas se transtorna, ele é transformado. A ironia é uma característica comum dos filmes de Craven. Em confronto, estes indivíduos tornam-se semelhantes.
Os actores são bem escolhidos e representam a um bom nível os diversos personagens desta história. A escolha para os actores da família Carter assenta bem nos estereótipos representados em cada elemento do clã. Aaron Stanford é o actor que sobressai neste filme, já que tem o papel mais intenso e torna credíveis as suas alterações ao longo do filme. Já a roupagem que Aja confere ao filme é visceral. Ele não faz concessões, em «Terror nas Montanhas» não há espaço para o politicamente correto, quando o terror começa só termina no final. Em várias sequências bastante intensas, o realizador transporta o espectador para o interior do terror e não deixa de criar cenas dignas de um museu ao grotesco.
A evolução na construção desta película é a chave do sucesso para a mesma. A ironia está sempre presente em aspectos que podem passar despercebidos ao público. Mas são os pormenores que marcam a diferença e definem «Terror nas Montanhas» como uma referência do cinema de terror em 2006, suplantando outros títulos editados neste ano («Saw 2» ou «Hostel»). Não é apenas um sucesso de bilheteira, vai mais longe (em todos os sentidos) do que os seus rivais. Trata-se de um filme de terror que vai apelar ao grande público que aprecia o cinema deste género, mas merece ser visto como mais do que isso, pois também é uma sátira aos EUA e à sua sociedade.
[Crítica originalmente publicada a 11 de Maio de 2006, no site Cinema2000]
Título original: The Hills Have Eyes Realização: Alexandre Aja Intérpretes: Aaron Stanford, Dan Byrd, Emilie de Ravin, Kathleen Quinlan, Vinessa Shaw, Ted Levine, Robert Joy, Desmond Askew, Tom Bower, Billy Drago, Laura Ortiz Estados Unidos, 2006