Velas Escarlates

VELAS ESCARLATES

VELAS ESCARLATES

A Guerra acabou, Raphael regressa para encontrar Marie, a sua mulher e uma filha recém-nascida, a pequena Juliette. A mulher morre, o acolhimento da aldeia não é o melhor, ele procura trabalho, mas é rejeitado. É marceneiro e artesão, faz trabalhos inspirados como relevos na madeira e esculturas singulares. Mas os segredos escondidos na aldeia são tenebrosos e Rafael descobre que o dono da taberna abusara sexualmente da sua falecida mulher. A dúvida paira na pequena localidade e vai amaldiçoar a pequena Julieta. Anos mais tarde, a adolescente Julieta, tal como o seu pai, é olhada com desconfiança pelos colegas da escola e pelos aldeões. Conhece uma feiticeira que alimenta os seus sonhos com a promessa de vislumbrar, no céu, velas escarlates. A vida não é fácil para ela.

Um drama com traços largos de fantasia é a proposta de Pietro Marcello com este «Velas Escarlates», estreado entre nós na festa do cinema italiano com agradável acolhimento do público. É uma viagem ao interior da França profunda, marcado pelas dificuldades do pós- primeira guerra mundial, e pelas vicissitudes da vida aldeã. Uma fantasia ancorada numa realidade dura enfrentada pela família de Julieta, filmada com beleza e sensibilidade, com uma direção de fotografia inesquecível, sem cair num decorativismo oco. A realidade é dura, é filmada com aspereza e rudeza, porém o pai Rafael e a filha Julieta unem-se pela beleza, pela arte e pela fantasia, com os momentos mais expressivos e bonitos do filme por eles vividos. Dito isto, o destaque final vai para um elenco excelente onde Raphael Thiery e Juliette Louan são os protagonistas, e a presença dum aviador e aventureiro muito especial, objeto do desejo da jovem Julieta, num registo delicioso de Louis Garrel. Magia e fantasia numa realidade cinzenta? É isto o cinema!

Título Original: L’envol Realização: Pietro Marcello Elenco: Rapahel Thiéry, Juliette Jouan, Noémie Lvovsky, Louis Garrel Duração: 100 min. Itália, 2022

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº95, Julho 2023]