Uma cantora de ópera italiana reformada acorda na morgue apenas para perceber que a sua própria morte passaria despercebida ao comum dos mortais. Um duplo britânico questiona a sua profissão quando o filho sofre um acidente de bicicleta. Uma idosa colombiana, fumadora inveterada, faz um pacto com Deus sobre a sua própria morte. Um dono de um café ainda sofre com a morte da sua esposa, cinco anos depois. Um maquilhador de mortos conhece o amor à primeira vista, depois de ser despedido da morgue. Uma jovem mutila-se depois de um vídeo seu se tornar viral. O ponto em comum entre todos: a cidade de Paris.

Com um elenco de luxo, como Monica Bellucci, Rossy de Palma, André Dussollier ou Roschdy Zem, Marjane Satrapi, a realizadora premiada por «Persépolis», apresenta-nos uma comédia negra que, ao jeito de filmes como «Paris, Je T’Aime» traz um enredo em que várias histórias se cruzam no cenário da capital francesa, não se preocupando, no entanto, com um “happy ending” para todos.

Em certos momentos, o non sense invade-nos, mas a realizadora iraniana fá-lo de forma propositada. Marjane Satrapi parece procurar o subliminar. Uma pessoa é uma coisa, mas esconde outra. Alguém acha que está vivo, mas afinal morreu para a vida; outra pessoa agarra-se a um amor que já morreu, para não ter de viver a dor do novo. Um apresentador de televisão fala sobre a morte todos os dias e há um dia em que a morte dá um sinal de que sua hora vai chegar mais cedo.

«Tudo Acontece em Paris» é sobre a morte, mas é sobretudo sobre a vida, sobre uma Paris cheia de vida, mesmo que circundada pela morte. As histórias cruzam-se, assim como na vida, nas ruas de uma Paris outrora glamorosa, como a cantora de ópera que foi dada como morta mas que afinal estava viva. É sobre a chegada da velhice, a espera da morte e as várias auto-estradas e estradas secundárias para lá chegar. É sobre os acordos com Deus e a morte, sem saber que ela chegará sempre, sem hora marcada; é sobre o poder das redes sociais levarem os jovens a procurarem o suicídio, quando apenas precisam de falar e de serem ouvidos; é sobre o “dar-se à morte” quando se segue o instinto de dar um beijo não pedido; é sobre o emigrante que “morre” para a sua terra, para ganhar vida noutro país.   

Talvez esta seja outro tipo de carta de amor a Paris. O Sena está lá, o café tradicional também, como ponto de encontro dos amantes de café e de uma boa conversa sobre o dia a dia, a Torre Eiffel surge ao longe, a cidade cosmopolita impõe-se e o estilo boémio de Montmartre assume-se, assim como o charme romântico dos telhados de Paris e o estilo icónico da arquitectura Haussmann. Não é um retrato perfeito, estilo «Emily in Paris», mas assim é Paris e assim é a vida. Por vezes áspera, outras vezes suave, e muitas vezes escondida na beleza das pequenas coisas.

Título Original: Paradis Paris Realização: Marjane Satrapi Elenco: Monica Belucci, Ben Aldridge, Rossy de Palma, Martina García Duração: 110 min. França, 2024

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