«Special Ops: Lioness» é a nova e emocionante série de Taylor Sheridan, um criador em estado de graça. Devemos confessar que não esperávamos que «Special Ops: Lioness» nos conseguisse surpreender desta forma. Talvez pela influência de «Yellowstone» e a narrativa mais masculina tenhamos esquecido das capacidades de Taylor Sheridan na construção de uma personagem feminina dividida entre os deveres da missão e os meandros da vida pessoal. Mas relembramos que Taylor Sheridan criou o argumento do brilhante «Sicario» (2015), dirigido por Denis Villeneuve, que tinha como figura central a personagem de Emily Blunt, envolvida no brutal submundo dos cartéis de droga mexicanos.
«Special Ops: Lioness» possui uma sensibilidade feminina numa série marcadamente feita a pensar no papel e no impacto da mulher nas guerras contra o terrorismo global. Joe (Zoe Saldana) é a líder de uma equipa de operações especiais que infiltra agentes americanas junto de alvos terroristas. Estas tornam-se próximas das mulheres ou das filhas dos líderes terroristas e facilitam a eliminação desses alvos perigosos. Normalmente são missões de alto risco onde as infiltradas podem não sobreviver.
A trama desta primeira temporada envolve o recrutamento de Cruz Manuelos (Laysla De Oliveira, a revelação desta série), uma excepcional marine (entre homens e mulheres) mas que nunca esteve envolvida neste tipo de operações. A narrativa vai acompanhar com proximidade quatro figuras centrais: Joe; Cruz; Kaitlyn Meade (Nicole Kidman), a directora de operações; e Aaliyah (Stephanie Nur), a filha de um “banqueiro da morte”, um homem responsável por financiar as operações dos principais grupos terroristas.
Talvez pelo trailer da série pudéssemos pensar que a trama era muito voltada para o lado da “acção”, mas não poderíamos estar mais errados. O que nos leva a devorar os oito episódios da primeira temporada são estas personagens que referimos. Elas vão estar constantemente em alta tensão pelo dever de cumprir a missão na protecção dos inocentes em todo o mundo. Aliada a essa vertente profissional, está a componente pessoal. Outra agradável visão desta narrativa são as intrigas palacianas onde o poder real está longe dos teatros de operações e faz-se em salas de reunião, onde se debate não só supremacia militar, como também o lado político e económico de cada acção.
Em ternos de interpretações, destaque repartido entre Zoe Saldana e Laysla De Oliveira. Zoe Saldana é uma actriz que consegue não só demonstrar a sua fibra de heroína de acção como também espelhar a angústia de mãe e o afastamento da sua filha adolescente. Laysla De Oliveira é uma actriz desconhecida do público e interpreta uma personagem espinhosa que anda com duas pedras na mão e subitamente está perante o amor no lugar mais inesperado. Nicole Kidman ao longo da temporada vai adquirindo mais preponderância, mas tem um desempenho mais limitado.
A acção e a execução da série é eximia, não só pelo argumento musculado e eclético de Taylor Sheridan, como também pela envolvência de um realizador que apreciamos bastante na realização da série, o australiano John Hillcoat («A Estrada» (2009), «Escolha Mortal» (2005)).
«Special Ops: Lioness» é mais uma excelente proposta de Taylor Sheridan, com complexidade dramática, acção com execução perfeita a la «Sicário» e com boas interpretações. É para ver na SkyShowtime.
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº101, Inverno 2023]
https://www.youtube.com/watch?v=IljG0a1YEck