«Red Rooms» é um thriller canadiano que nos apanha completamente desprevenidos. Inicialmente parece ser um filme de tribunal, mas é muito mais do que isso.

A tensão de «Red Rooms» é constante. Em causa está um crime hediondo. Um indivíduo está no banco dos réus, raptou três vítimas menores e numa sala privada online (o tal “red room” na dark web) criou um espectáculo grotesco, um snuff movie para os utilizadores. Em tribunal, a acusação deseja a sua condenação baseada nas imagens do vídeo de tortura onde é possível ver um homem mascarado, apenas com olhos visíveis. Além disso foram encontrados dois vídeos do crime no computador do acusado. O espectador é atirado para uma teia de suspeitas e pistas. Será que o homem é inocente ou um monstro?

Kelly-Anne (Juliette Gariépy) é uma reconhecida modelo fotográfica, uma pessoa solitária, com habilidades de hacker, e que enriquece de forma pragmática no jogo online. Ela possui um olhar enigmático por trás da sua atraente figura. Kelly-Anne será o centro da ação, está a acompanhar o caso na sala de audiências. Não percebemos até ao último minuto do filme quais são as suas intenções: provar a inocência ou a culpabilidade do homem no banco dos réus. Kelly-Anne estabelece uma amizade com Clementine (Laurie Babin), uma groupie do homem acusado.

«Red Rooms» tem várias facetas, começa por ser um filme de tribunal para rapidamente se transformar num arrepiante thriller que nos deixa sem uma pinga de sangue. O arrepio, a tristeza e a tensão avassaladora assentam na palavra e na descrição dos factos com a velha máxima que aquilo que não se vê é ainda mais aterrador.

A protagonista leva-nos também a uma análise psicológica dos dois lados do julgamento popular e a histeria que ultrapassa o choque e a comoção e onde as vítimas se transformam em vedetas. Levando a irracionais atos de apoio, incluindo assediar as famílias das vítimas. A realização de «Red Rooms» é imparcial e perspicaz, o que torna a obra ainda mais magnetizante, apresentando apenas as ações e as emoções invisíveis de Kelly-Anne, a exceção é a expressividade de Clementine no seu apoio incondicional ao acusado, sem sequer ter visto as imagens do crime. Para Kelly-Anne não há emoções ou sorte, ela só está focada em lidar com o jogo que tem à sua frente.

«Red Rooms» tem várias nuances, além do majestoso thriller psicológico. A protagonista é uma revelação numa obra cerebral que explora a anatomia de um assassino sem mergulhar na violência explícita, em jeito de auto-crítica ao fenómeno da adoração destes monstros psicopatas – um fenómeno real e documentado. «Red Rooms» é neste momento é um ovni, mas rapidamente cairá no goto dos espectadores que apreciam narrativas que rescrevem definitivamente um género. 

Título original: Les chambres rouges Realização: Pascal Plante Elenco: Juliette Gariépy, Laurie Babin, Elisabeth Locas Duração: 118 min. Canadá, 2023

[Crítica originalmente publicada a 7 de Novembro, 2024]

Foto: ©Nemesis_Films_inc

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