O que lidamos com uma nova vida na carreira do ator Russell Crowe, estrela que como muitas têm sido abandonadas dos holofotes das grandes produções pelo facto de, como todos os mortais, envelhecer. Este processo que poucos conseguem lidar propriamente (envelhecer no cinema solicita um arte), o recambiado-o ao tipo de produções de onde viera, e talvez, por aí ande uma espécie mina de ouro onde Crowe seja rei Salomão. Há quem compare esta sua carreira agora vinculado a um género e estilo algo canastrão com as enésimas aventuras germinadas do êxito de “Death Wish” que Charles Bronson encontrou aos “montões” em década de 80’. Convenhamos que este “Exorcismo” tenha uma costela da última incursão de possessões do ator, “O Exorcista do Vaticano” (Julius Avery, 2023), que adquiriu um certo culto pelas “sociedades underground” de cinéfilos, contudo, garantidos que nada de relacionado tem estas duas obras e fica a notícia em modo rodapé: “O Exorcista do Vaticano” terá sequela. Quanto ao “Exorcismo”, não nos deixemos de modas nem preconceitos pré-estabelecidos até porque o assinante disto é Kevin Williamson, o argumentista aliado a Wes Craven na fomentação da era pós-moderna do terror com uns quantos “Gritos” (a sua ausência, aliás de ambos, faz-se sentir nestes dois últimos atentados da franquia). E a caneta de Williamson é notada até no espelho que cria nesta intriga de um eventual remake de “O Exorcista” de Friedkin (tal não é formulado em palavras, mas o filme não esconde a ambição) e de um ator na penúria e com quantas reabilitações no historial que é cotado para o protagonizar, porém, a rodagem é tudo menos pacífica, há no ar um toque demoníaco que vai se apoderar dos bastidores e atormentar este já atormentado Russell Crowe. De facto há pitadinhas de interesse nesta descida infernal com o seu quê camp (Crowe faz isso por nós, o que aufere, tal como em “O Exorcista do Vaticano”, o seu ar de graça), o ínicio com aquela “casa das bonecas” a ser mapeada, o gesto Williamson em exorcizar uma Hollywood que entre a sua “fogueira das vaidades” tem o mortal auto-fascínio, até o percurso daquela fictícia rodagem que nos soa mais intimista do que fantasmagórica, mas … e tudo tem um mas, a ‘coisa’ tende a despertar um clímax espampanante e caótico, nada de novo, obviamente, que os elogiados “The Conjurings” também possuem essa tendência. Denomino “motivação Jesus Franco”, que em reflexo com o lendário e prolífico realizador, os filmes tendem ser abandonados da sua premissa como sinal de desinteresse dos envolvidos, optando por um pragmatismo, ora involuntariamente cómico. Fora isso, é melhor que a encomenda.
Título original: The Exorcism Realização: Joshua John Miller Elenco: Russell Crowe, Ryan Simpkins, Sam Worthington, David Hyde Pierce Duração: 95 min. EUA, 2024
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº108, Julho 2024]