Sou carioca do Complexo do Alemão, nascido no Morro do Adeus, no bairro de Bonsucesso, em tempos em que o cinema nacional se agarrava em Hector Babenco (1946-2016) como a maior esperança da sua indústria para ganhar as telas (e, a partir delas, os prémios) do mundo, com «Pixote, A Lei Do Mais Fraco» (1980) e com «O Beijo Da Mulher Aranha» (1985). Ou seja, mais brasileiro, impossível, mesmo formado por um cineasta argentino de Mar Del Plata (que foi naturalizado paulistano) como Babenco, e mesmo criado por imigrantes, no caso, uma mãe de Viseu e um pai lá do Armamar, pertinho de Lamego. As estrangeirices em minhas veias (até as ópticas) se fizeram retorcer e aplaudir diante da sessão de «O Agente Secreto», de Kleber Mendonça Filho, na Croisette. É, sim, um filme do Brasil, que abre com um cartaz de «Os Trapalhões», do fim dos anos 1970, mas presta homenagem recorrente ao «Tubarão» («Jaws»), de Steven Spielberg, além de louvar a produção audiovisual da Nova Hollywood e mimetizar o seu melhor. É difícil não pensar em «The French Connection» (1971) e nas correrias de Popeye Doyle (Gene Hackman) diante das fugas do personagem de Wagner Moura. Eis a minha Palma pessoal, não só pela brasilidade em minha “autogeografia”, mas pela sintonia desse thriller esplendoroso com toda uma tradição de cinefilia de um diretor que louvou Babenco. Quando ele morreu, há nove anos, Kleber postou: “morre um realizador de Cinema, alguém que fazia filmes pensando na telona”. Não é por acaso que aparece um cartaz de “Lucio Flávio, o Passageiro da Agonia” (1977), fenómeno de bilheteria de Hector Babenco, aparece na trama protagonizada por Wagner.
Ambientado em 1977, em plena ditadura militar, no governo Geisel, «O Agente Secreto» traz Wagner Moura no papel de um cientista, responsável por um laboratório numa universidade pública de Pernambuco, que pesquisa energia. Ao desagradar um representante da indústria com ligações a vuma empresa de energia, ele passa a ser perseguido, sob a ameaça de morte. Chega ao ponto se abrigar numa pensão que é definida como um lar para refugiados. Mesmo nessa condição, ele almeja sair do país com o seu filho pequeno, ajudado pelo sogro projecionista (Carlos Franscisco) e por uma célula de resistência ao Poder instaurado, que tem a misteriosa Elsa (Maria Fernanda Cândido) como operativa. Ganhou quatro láureas em Cannes e candidata-se a entrar para a História.

