Rolou muita água… e alguma polémica… até que o Brasil decidisse (por lucidez e afinação com a Progressão Aritmética e Progressão Geométrica da Oscar Season) escolher «O Agente Secreto» [«The Secret Agent»], de Kleber Mendonça Filho [KMF], para ser o seu representante na corrida por uma vaga na disputa das estatuetas de Hollywood. Essa decisão foi anunciada pela Academia Brasileira de Cinema no dia 15 de setembro e tem o poder para afetar (para mais… e melhor) a bilheteria da longa-metragem na sua pátria natal, onde a sua estreia acontecerá no dia 11 de novembro. Até lá, tudo é aritmética em prol de potenciais indicações às premiações que circundam a festa de uma outra Academia, a de Artes e Ciências Cinematográficas, em Los Angeles.

Aos olhos da crítica, do mercado exibidor e de profissionais de diferentes áreas da produção audiovisual, «O Agente Secreto»,  é um título com perfil “já ganhou”, apoiado numa trajetória que lembra a de «Ainda Estou Aqui» em sua reverberação em festivais de peso. O sucesso comercial de Walter Salles, visto por 5,8 milhões de pagantes nos cinemas no Brasil, começou o seu percurso atrás do Oscar na luta pelo Leão de Ouro de Veneza, onde ganhou o primeiro dos seus 67 prémios: a láurea de Melhor Argumento. O destaque da América Latina, o inflamável suspense pernambucano dirigido pelo realizador de «O Som Redor» (2012) deu os seus primeiros passos em Cannes, onde venceu em quatro frentes.

Concorrente à Palma de Ouro, foi agraciado com o troféu de Melhor Direção (dado a Kleber) e o de Melhor Ator, confiado ao baiano Wagner Moura, pelo júri oficial, presidido por Juliette Binoche. Recebeu na Croisette ainda o Prémio da Crítica – dado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica, a Fipresci – e um prémio da Associação de Cinemas de Arte e Ensaio. Os franceses salivam pela fita. Em França, a sua produtora, Emilie Lesclaux, é referência de êxito e de empenho.
  
O que vemos ao longo das duas horas e 38 minutos de «O Agente Secreto», é a luta pela vida de um investigador e professor universitário (papel de Wagner) perseguido por assassinos no Brasil de 1977, numa ditadura conivente com abusos de empresários e agentes da polícia. Essa peleja contra um estado corrupto acaba de passar pelo TIFF – Festival de Toronto, no Canadá, que costuma abrir as portas da Academia para potenciais concorrentes. Eleito Melhor Filme em Lima, no Peru, «O Agente Secreto», zarpou de terras canadianas para passar pela mostra Perlak de San Sebastián (de 19 a 27 de setembro) e pelo BFI London Film Festival (de 8 a 19 de outubro). Mostras em Biarritz, Nova York e Zurique já estão no seu radar.   

“Nós queremos levar «O Agente Secreto», o mais longe que conseguirmos,” declarou Ryan Werner, presidente de cinema global da Neon, empresa responsável por distribuir o filme nos Estados Unidos, em comunicado à imprensa.

Aclamado por onde passa, «O Agente Secreto», tem fôlego (e tem Wagner Moura) para se tornar um blockbuster, termo aplicado a longas que vendem mais de 1 milhão de ingressos. A forte acolhida que teve no fim de semana passada, ao abrir o Festival de Brasília, confirmou o quão refinado é o seu engenho narrativo para ocupar olhos e corações.

A longa anterior de KMF, «Retratos Fantasmas», de 2023, hoje ganha espaço nobre na Europa ao ser incluído na Filmin.PT. Lá estão ainda uma série de curtas do realizador: «A Copa do Mundo no Recife», «Vinil Verde», «Eletrodoméstica» e «Recife Frio». Nos EUA, o seu documentário sobre as salas de cinema entrou na grelha do prestigiado Criterion Channel.

[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº122, Setembro 2025]

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