E eis que alguém se lembrou de fazer um filme em torno da dupla Daffy Duck e Porky Pig. Se é verdade que o pato preto doidivanas e o porquinho de laço vermelho já tinham frequentado o grande ecrã num filme genial de Robert Zemeckis, «Quem Tramou Roger Rabbit?» (1988), para além de outras longas-metragens live action, como «Looney Tunes: De Novo em Ação» e «Space Jam», o facto estridente é que nunca antes houve uma animação de cinema exclusivamente centrada nos destinos destas célebres figuras caóticas do universo Looney Tunes. Lacuna agora resolvida por Peter Browngardt, que entre o estilo old school desses bonequinhos e a moda dos argumentos rocambolescos, assinou desenhos animados capazes de bombear a nostalgia dos adultos, ao mesmo tempo que preenchem os requisitos do humor físico para crianças.

Desde logo, o espectador mais velho, entusiasmado com as referências da sua geração, será surpreendido por um acréscimo de camada emocional: em «Looney Tunes: Daffy & Porky Salvam o Mundo», os dois protagonistas surgem como irmãos adotados por um agricultor barbudo, Jim, cuja memória bucólica inspira a mais sentida mensagem de união. Ou seja, aconteça o que acontecer no reino do absurdo quotidiano (especialidade de Daffy), o importante é que se mantenham juntos na adversidade; a começar pelo telhado partido da casa que lhes deixou o pai Jim, e que os levará numa série de frustradas experiências de emprego, até conseguirem trabalho numa fábrica de pastilha elástica que é a antecâmara de uma aventura com sabor extraterrestre (aparentemente, há um vilão de cabeça verde a querer invadir a Terra…). E ainda nem falámos do interesse amoroso de Porky, Petunia, que se torna uma aliada imprescindível nesta intriga de ficção científica.

Misturando alienígenas com zombies numa narrativa que parodia «Invasion of the Body Snatchers», entre outras delícias do género, o filme parte daquele território bem conhecido da diversão Daffy & Porky para uma rica viagem sensorial (olhos e ouvidos), sem pretensões de clássico, mas ainda assim com um modelo criativo que afirma a sua génese artesanal, e uma linguagem particularmente hollywoodesca. Essa que, no meio da alegre desordem, aponta para a beleza da irmandade, com Porky a assumir uma pose de voz da razão junto da natureza impulsiva, por vezes incontrolável, de Daffy. Em suma, uma pequena maravilha para os fãs de um certo imaginário americano, lindamente antiquado e elástico.

TÍTULO ORIGINAL: The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie REALIZAÇÃO: Peter Browngardt ELENCO: Eric Bauza, Candi Milo, Peter MacNicol ORIGEM: Estados Unidos, Canadá DURAÇÃO: 91 min. ANO: 2024

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