Num dos momentos mais perturbadores e comoventes de um dos filmes mais aguardados para a selecção oficial da edição deste ano do Festival de Cannes (e que só conseguiu lá chegar do Irão numa pen drive dentro de um bolo de aniversário), Jafar Panahi (que o filmou e montou no seu apartamento em Teerão ao lado do amigo Mojataba Mirtahmasb) questiona (para o amigo, para ele mesmo ou para o espectador?): “se pudéssemos contar um filme, para quê fazê-lo, então?” Condenado a seis anos de prisão e proibido de fazer filmes durante 20 anos, o realizador de «O Círculo» (Leão de Ouro em 2000), apresenta aqui, por intermédio de uma câmara digital e da palavra, a estranha possibilidade de tornar cinematográfica tanto a própria censura como o desejo de a contornar, com uma honestidade tão fascinante quanto radical. Flávio Gonçalves
[Crítica publicada em Dezembro 2011]