“Heartbreak Hotel” (Asa BD) parte de uma interessante premissa que surge da imaginação da italiana Micol Arianna Beltramini. O hotel dos “corações partidos” alberga todos aqueles que sofreram de um desgosto amoroso e cria um sentimento de ilusão, uma realidade alternativa onde os hóspedes adolescentes criam a sua felicidade. O problema é quando têm de regressar à realidade e confrontar-se com o seu desgosto amoroso.
“Heartbreak Hotel” é um livro para jovens adultos e tem uma linguagem pensada para os mais novos. A sua estrutura é muito interessante ao acompanhar diferentes relações de jovens que têm desgostos amorosos. Temos a paixão de Maya por Laura, que tem um namorado chamado Fede; a história de Martino, um puto gay de 16 anos, que se enamora por um rapaz mais velho que conhece no Instagram, acaba por criar um perfil alternativo para conhecer o seu crush que o acaba por humilhar e esmagar a sua paixão; a mais bela história de Fiona, a jovem bailarina e o seu triângulo amoroso; e a fechar temos mais uma história que se torna inesperada e um volte-face nos acontecimentos, mas escusamos de fazer spoilers para o leitor. É uma conclusão que agrega sentimentos e fecha lindamente um livro muito bem escrito e bem desenhado.
Micol Arianna Beltramini tem alguns livros de banda-desenhada já publicados: “Last goodbye. Un tributo a Jeff Buckley” (que deve ser bem interessante), “Murder Ballads” e “Anna dai capelli verdi” que foi feito com Agnese Innocente, a ilustradora de “Heartbreak Hotel”. “Anna dai capelli verdi” foi o vencedor do prémio Boscarato para a melhor banda desenhada para o público jovem e as autoras transportaram o seu talento novamente para “Heartbreak Hotel”. A desenhadora italiana Agnese Innocente nasceu em 1994 e já tem no CV projetos muitos interessantes em BD que deixaram a METROPOLIS a sonhar com estas edições em terras lusas – é o caso da adaptação de O Feiticeiro de Oz e um biopic sobre a lendária Audrey Hepburn, assinado no início de 2024.
A autora, Micol Arianna Beltramini, não só teve a capacidade de recriar relações verosímeis entre os adolescentes – é um livro inclusivo – como elaborou uma perfeita anatomia do dia seguinte – em forma de fantasia – após os jovens terem a experiência de ver os seus amores desfeitos em mil pedaços. O lugar espiritual que encontrou para sararem essa dor foi o Heartbreak Hotel que alberga em si um processo de introspeção. Este local é um espaço de consciencialização do que correu mal, mas também abre a porta a um mundo de possibilidades à espera destes jovens. Também apreciei bastante a forma assertiva que a autora descreve uma ferramenta destes processos de sedução/obsessão, veja-se a sua deleitosa descrição do Instagram: “reino de ilusões estéticas […] espelho de uma inveja constante por uma vida que não a nossa. […] Mas sobretudo, império de relações imaginárias”.
“Heartbreak Hotel” poderá ser um daqueles livros que se vai popularizar entre os leitores mais novos. É sempre bom encontrarmos novelas gráficas para um público específico. A obra consegue corresponder às expectativas graças à capacidade de entendimento e exposição desses sentimentos de uma forma bem original. Reforçamos uma das mensagens universais desta narrativa que assenta na coragem de amar e enfrentar as responsabilidades olhando melhor para quem nos rodeia.