Encarado como um veio de renovação autoral para a indústria audiovisual alemã dos anos 2000, de braços dados ao melodrama, Fatih Akin lança o novo filme em 2025 e faz do 78º Festival de Cannes a plataforma de promoção para a releitura da II Guerra Mundial e retoma a sua parceria com a atriz Diane Kruger. «Amrum» foi selecionado para a seção Cannes Premiere, longe da disputa pela Palma de Ouro. A sua narrativa foi estruturada como uma aventura insular ambientada em 1945. A primeira projeção ocorre nesta quinta-feira.
“Existe uma criança que vê o mundo sem entender o que se passa com o país em que cresceu e admira”, adiantou Akin à revista METROPOLIS numa entrevista no seu escritório, em Hamburgo, onde nasceu, há 51 anos.
Na trama do filme, desenrolada na primavera de 1945, na illha Amrum, o miúdo Nanning (Jasper Ole Billerbeck) faz o que pode para ajudar a sua mãe, seja a caçar focas, pescar ou suar a camisa na lavoura. A sua vida parece boa até a hora em que ele se dá conta de que a Alemanha impôs o jugo do nazismo Europa adentro – e está a um passo de ser derrotada.
“É uma longa-metragem sobre maturidade”, disse Fatih.

Em 1998, depois de uma breve trajetória como ator, iniciada em 1994, ele se dedicou à direção de longas-metragens, começando com «Rápido e Indolor» («Kurz und Schmerzlos»), que lhe rendeu o Leopardo de Bronze no Festival de Locarno. No início deste ano, ganhou uma retrospectiva da sua obra no Rio de Janeiro, na Caixa Cultural, organizada sob a curadoria de Nina Tedesco e Hans Spelzon. O seu mais recente exercício de autoralidade chama-se «Rheingold: O Roubo do Sucesso» (2022), que vendeu 1 milhão de ingressos em solo alemão semanas após o seu lançamento. Na Croisette, ele provou o gosto da consagração há 18 anos com «Do Outro Lado» («Auf der anderen Seite»), um tratado sobre as intolerâncias culturais que valeu a Fatih o prémio de Melhor Argumento em Cannes, em 2007. A sua obra-prima, contudo, nasceu em casa, na Berlinale: «Head On – A Esposa Turca» [«Contra a Parede» no Brasil] («Head-on», 2004), coroada com o Urso de Ouro. É um tempestuoso retrato de grande afeição com Sibel Kekilli e Birol Ünel em estado de graça no elenco.
O cineasta desfilou ainda pelas veredas da não ficção com «Poluindo o Paraíso» («Müll im Garten Eden», 2012) e o badalado «Atravessando a Ponte – O Som de Istambul» («Crossing the Bridge», 2005).

“Pelo meio do processo de criação de «Amrum» [foto], pude escrever outros dois argumentos em paralelo, incluindo uma história sobre o Império Otomano”, disse Fatih, que filmou com Diane Kruger «Uma Mulher Não Chora» [«Em Pedaços», no Brasil] («Aus dem Nichts») [foto], vencedor do Globo de Ouro em 2017.
“Hoje, eu vejo realizadoras alemãs como Julia von Heinz, Maren Ade e Valeska Grisebach, fazerem um cinema que surpreende, o que me felicita”, disse Aki.
O 78º Festival de Cannes segue até o dia 24 de maio.