As adaptações literárias estão de boa saúde e recomendam-se: «Disclaimer» entrega um elenco de estrelas com a direção de Alfonso Cuarón. Esta é uma das mais recentes apostas da Apple TV+.
São vários os ingredientes capazes de levar a audiência a dar uma oportunidade a «Disclaimer», adicionada recentemente ao catálogo da Apple TV+. Além de ser uma criação de Alfonso Cuarón – com base no livro de Renee Knight –, que também realiza, a série apresenta um elenco de titãs, liderado por Cate Blanchett e Kevin Kline, enquanto Sacha Baron Cohen surpreende num papel sério e há ainda espaço para as “promessas” Louis Partridge e Kodi Smit-McPhee [já nomeado aos Óscares por «O Poder do Cão» (2021)]. Já a direção de fotografia fica a cargo de nomes de peso da indústria: Emmanuel Lubezki («Gravidade», «Birdman», «The Revenant») e Bruno Delbonnel (The Tragedy of Macbeth, «A Propósito de Llewyn Davis», «A Hora Mais Negra»).
A história em si pode parecer quase acessória, mas não é, ainda que seja ofuscada pela própria ficha técnica. Catherine Ravenscroft (Cate Blanchett) é uma jornalista de sucesso, habituada a penalizar transgressores e a repor, de alguma forma, a justiça. O estatuto aparentemente intocável não dura muito: a chegada de um livro misterioso a sua casa, que parece retratá-la, leva a protagonista a entrar numa espiral de loucura e autodestruição. Quem estará por detrás de tamanho ataque?
A interseção de tempos e espaços diferentes vai confundindo o espectador, que tenta enquadrar as diferentes storylines, de forma a trazer algum sentido narrativo à trama que testemunha. Se por um lado Catherine se posiciona no centro da ação, Jonathan (Louis Partridge) e Stephen (Kevin Kline) assumem-se como figuras paralelas que, ao escreverem a sua história, se aproximam progressivamente daquela que é a génese de «Disclaimer». Um caminho sinuoso que, embora se revele rapidamente, esconde vários atalhos e interseções que maximizam tudo o que acontece – ou aconteceu – ou acontecerá (?).
Cuarón dispensa apresentações e, na nova série da Apple TV+, recorda-nos porquê. Com um estilo autoral muito próprio, desinteressado de regras e barreiras, entrega uma série complexa, mas “real”, com personagens frágeis e enigmas humanos. Dos problemas mais banais aos mais densos, cada acontecimento é uma oportunidade de explorar as fragilidades do núcleo central, num argumento que não procura heróis nem vilões…