“Os livros são uma forma única de magia portátil”, escreveu, em tempos, Stephen King. Não foi o único – longe disso – a refletir sobre como os livros são como portas que nos levam a novos mundos mágicos. David Bisbano, realizador argentino, concretizou a analogia e mostra-nos como as fronteiras entre o mundo que conhecemos e os mundos da ficção contidos num livro podem ser facilmente transpostos e sobrepostos. O conceito é a base do mais recente filme de Bisbano, «Dália e o Livro Mágico» (2024), que teve antestreia especial em Portugal na MONSTRA | Festival de Animação de Lisboa.
No filme de animação, Dália é a pequena filha de um escritor e de uma editora. O seu brinquedo de peluche favorito é um bode e, quando o pai a convida a escolher uma das personagens do novo livro que está a escrever, Dália não hesita: um Bode.
O tempo passa, o pai morre e o livro fica inacabado. Até que as personagens da história saem das páginas, raptam Dália, agora com 12 anos, e levam-na à força para a história de ficção: um mundo de fantasia, no qual os animais comportam-se como humanos, o coadjuvante de Dália é Bode e a filha do escritor tem de assumir, ela própria, a continuação da história.

Bisbano tece este cruzamento entre o mundo de dentro e fora do livro, explorando as vidas que poderão ter as personagens da ficção, quando um escritor as abandona. O filme é uma ode ao processo criativo, à criação de personagens e joga, ao longo do tempo, com os papéis de protagonista e antagonista dentro de uma narrativa.
Se as fronteiras entre mundos imaginários são ténues, o mesmo se pode dizer das técnicas de animação usadas. O realizador fez questão de não ficar preso a uma única técnica, optando por uma abordagem fluída que combina cenários e iluminações mais perto do que se faz em stop-motion, com personagens em CGI.
Partindo de uma base narrativa poderosa, «Dália e o Livro Mágico» nem sempre consegue dar continuidade, na perfeição, à sua premissa inicial. Sobretudo na reta final, em que as linhas de construção do argumento enfraquecem e parecem, em certos pontos, pouco polidas. Nada que atrapalhe a mensagem principal do filme e, sobretudo, a forma como é, também ele, um incentivo à escrita de novas histórias – incluindo do próprio realizador, que está já a preparar uma nova vida de «Dália», desta feita em formato de série televisiva.
Na versão portuguesa, «Dália e o Livro Mágico» conta com a voz de Madalena Almeida como Dália, enquanto Luísa Sobral interpreta Esther, a mãe da menina.
Título original: Dalia y el Libro Rojo Realizador: David Bisbano Elenco: Agustina Cirulnik, Mariana Correa (V.O.); Madalena Almeida, Luísa Sobral (V.P.) Origem: Argentina Duração: 107 minutos Ano: 2024