Balada de um Pequeno Jogador

Ao escutar a palavra “eletrizante”, dita em tom de elogio, na conferência de imprensa de «Balada de um Pequeno Jogador» no Festival de San Sebastián, o suíço Edward Berger abriu um sorriso de satisfação, na sensação de que foi compreendido na forma de traduzir Macau a partir de um caleidoscópio.

Recorreu a filmes de culto de Johnny To e Wong Kar Wai para criar a narrativa que serve como um convite ao Óscar para Colin Farrell. A produção chega à grelha da Netflix depois de ter transitado pelos festivais de Toronto (o TIFF) e de San Sebastián, onde concorreu à Concha de Ouro apoiado na exuberância dos seus enquadramentos da jogatina em Macau.

Colin Farrell que aparece nessa produção vem de uma bateria de interpretações recentes de prestígio, a começar da conquista do troféu Copa Volpi com «Banshees of Inisherin» no Festival de Veneza de 2022. A sua popularidade cresceu ainda no streaming com as séries «Pinguim», da HBO Max, que lhe deu o Globo de Ouro, e «Sugar», da Apple, na qual foi dirigida pelo paulista Fernando Meirelles.

«Ballad of a Small Player» (título original) é a adaptação de um livro homónimo de Lawrence Osborne na qual Farrel parece encarnar o mítico David Niven (1910-1983), que viveu uma versão açucarada de James Bond em «Casino Royale», em 1967 (não confundir com a longa de mesmo nome com Daniel Craig, de 2006).

A trama que promete fazer o público pontapear as poltronas acompanha Lorde Doyle, um aristocrata arruinado que se afoga em dívidas de jogo, levado pelos impulsos da ludopatia. A compulsão pelo jogo é a sua desgraça, mas o argumento de Rowan Joffe não se limita a chorar mágoas: endividado até à espinha, Doyle deseja sair de cena de cabeça erguida. “Doyle é uma alma perdida, com uma bússola moral que já não existe, sob a pressão de um vazio na sua existência”, disse Farrell em San Sebastián.

Com credores no seu encalço, Doyle refugia-se em Macau, passando os dias e as noites nos casinos, a beber vodka e a jogar os trocos que lhe restam. Uma ajuda inesperada surge de Dao Ming (Fala Chen), funcionária da casa de jogo que mais frequenta, reacendendo os seus instintos adormecidos. Mas cada passo seu é seguido por Cynthia Blithe, investigadora privada (interpretada por uma Tilda Swinton mais contida, mas afetuosa), determinada em cobrar-lhe as dívidas. Apesar da dança de perigos, magnificamente amplificada pela direção de fotografia exuberante de James Friend, Doyle não abdica do verbo “tentar”.

Título original: Ballad of a Small Player Realização: Edward Berger Elenco: Colin Farrell, Tilda Swinton, Chik-Ka Lai, Alan K. Chang Duração: 101 min. Reino Unido/Alemanha, 2025