«A Complete Unknown» (2024) é um dos grandes destaques da noite dos Óscares, somando oito nomeações aos Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Secundária, Melhor Ator Secundário e Melhor Argumento Adaptado. Sem ser um claro favorito em nenhuma categoria, o filme deixa, ainda assim, espaço para surpresas. A vitória de Timothée Chalamet nos Prémios SAG veio baralhar as previsões para a corrida à estatueta de Melhor Ator, que até então parecia estar entre Adrien Brody (O Brutalista) e Ralph Fiennes (Conclave). A obra, inspirada na vida de Bob Dylan, tem o potencial de superar as expectativas iniciais, consolidando ainda mais o reconhecimento da indústria pelo trabalho de Chalamet, atualmente com 29 anos.

A Complete Unknown

O filme acompanha a experiência, musical e pessoal, de Bob Dylan (Timothée Chalamet) desde a sua chegada a Nova Iorque, em 1961, até à sua ascensão como um dos maiores nomes da música folk. «A Complete Unknown» (2024) viaja pelas suas primeiras vivências musicais na cidade, bem como pela importância da sua relação com ícones como Woody Guthrie (Scoot McNairy) e Joan Baez (Monica Barbaro), e como a sua escrita e sonoridade evoluíram ao longo dos anos. A narrativa inclui também a controversa transição de Bob Dylan para a guitarra elétrica no Newport Folk Festival de 1965, um momento que dividiu fãs, críticos e até colegas, e marcou um ponto de viragem na sua carreira. Ao combinar momentos íntimos e atuações musicais marcantes, a história equilibra a vida pessoal do artista com o impacto da sua música na cena cultural da época.

O realizador James Mangold imprime um ritmo envolvente e uma estética autêntica à produção, recuperando a efervescente cena folk de Nova Iorque nos anos 60. Por sua vez, a cinematografia usa de tons quentes e iluminação natural, reforçando a sensação de realismo e nostalgia. Já a banda sonora, composta por clássicos de Dylan, desempenha um papel essencial, enriquecendo a narrativa e intensificando a carga emocional do filme. O nível sobe também graças a Timothée Chalamet, que entrega uma interpretação imersiva, em que capta os maneirismos, voz e atitude de Bob Dylan com uma precisão surpreendente, especialmente nas performances musicais.

As interpretações de Monica Barbaro e Edward Norton são fundamentais para a profundidade emocional, especialmente na forma como se entrelaçam com a criação artística retratada no filme. Monica, no papel de Joan Baez, oferece uma interpretação polivalente, delicada e intensa, que explora a complexidade da relação entre a cantora e Dylan, marcada por fascínio, amor e, eventualmente, tensão criativa. Por sua vez, Edward Norton, como o mentor de Dylan, traz uma performance sólida e algo introspetiva, transmitindo tanto a admiração como as dúvidas de alguém que observa, de perto, a ascensão de um ícone. A sua interpretação mistura respeito e frustração, refletindo o conflito interior entre a vontade de preservar a tradição musical e a inevitabilidade da mudança que Bob Dylan representa.

«A Complete Unknown» (2024) vai além de um simples retrato biográfico de Bob Dylan, oferecendo uma experiência cinematográfica que se conecta com o público emocionalmente, sobretudo através da música. O filme consegue capturar a essência do artista, desde a sua inquietação criativa e da rebeldia contra as convenções estabelecidas, até à intensidade das suas canções, permitindo que tanto fãs de longa data como outros espectadores sintam a sua influência. Dylan é, de facto, uma figura histórica de relevância ainda hoje, tendo sido laureado com o Nobel da Literatura em 2016, um reconhecimento que sublinha a importância cultural e literária do seu legado.

Num contexto cinematográfico cada vez mais marcado por produções biográficas, o filme diferencia-se ao explorar a transformação de Dylan de maneira sensível e íntima, sem cair nas armadilhas da biopic convencional. A realização de James Mangold e a interpretação de Timothée Chalamet, ambos pontos altos do filme, contribuem para uma abordagem mais rica e multifacetada, oferecendo uma reflexão sobre a obra de Dylan e o contexto sociocultural em que esta surgiu. Por seu lado, «A Complete Unknown» (2024) apresenta-se como um exemplo de como a sétima arte pode reinterpretar e aprofundar acontecimentos reais, conectando passado e presente de maneira única.

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