Nothing is so dangerous as being too modern. One is apt to grow old-fashioned quite suddenly.” (“Nada é mais perigoso do que ser demasiado moderno. Corre-se o risco de ficar rapidamente datado”), frase de Oscar Wilde que nos chega sempre que «Tron» instala-se na conversa. Filme de 1982, com a promessa de ser o “último grito” da tecnologia gráfica no cinema, uma ficção científica cujos visuais não o abonaram à chamada das bilheteiras dos espectadores. Talvez na altura, a ânsia de ser-se moderno deixou um amargo sabor na boca do público, não os convencendo de ser este, o novo passo do cinema de ficção científica. Contudo, o fracasso recompensou com um certo culto, trazido pelas referências que «Tron» ia suscitando em outras obras, ou pelos reprises televisivos por parte da Disney, até chegar ao ponto de se achar que valia a pena apostar numa sequela, ou no reboot, como dança da sua contemporaneidade. Surgiu então, em 2011, «Tron: O Legado», a revisitação daquele universo com banda-sonora celebrada da dupla Daft Punk e ainda um truque tecnológico para assinalar: o rejuvenescimento digital, mais concretamente em Jeff Bridges, em duas personagens. O burburinho levou alguns às salas, mas não o suficiente para o declarar um êxito como se esperava, o que nos conduz a esta terceira parte, e antes de começarmos a questionar a sua existência, tem Jared Leto como protagonista, ultimamente um ‘poison’ em matéria de box-office. Contudo, chegamos ao terceiro, muda-se os ares (não sei se repararam no que fiz aqui … ba dum tsss), envolvemo-nos em guerras entre empresas para controlar a AI (déjà vu?) e como tem sido habitual (politicamente e propagandísticamente falando) neste tipo de produções, a  criação de empatia para com a máquina. Se anteriormente a artificialidade era sacrificada em prol da Humanidade (veja-se o caso de «Exterminador Implacável 2»), hoje Hollywood tem apostado no oposto, vender-se ao sintático. «Alien: Romulus» (também da Disney) metia essa patranha na sua narrativa (a protagonista abandona a sua amiga, grávida sublinha-se, para salvara a ”vida” do seu replicante) ou a demanda em resgatar M3Gan (sim, a robô assassina de Jason Blum) da sua aniquilação à mercê da antagonista na sequela atualizada e optimizada. Aqui, a personagem de Leto, criação de uma mega-corporação nepotista e militarista, mero bites & bytes e um astúcia artificial, a desejar ser-se de carne-e-osso, nem que para isso tenha que rebelar contra o seu criador, como “Frankenstein” de Mary Shelley (o filme não deixa impune essa influência). É uma história de Prometheus e coisas que o valha, a mensagem de amar a “máquina” ou lá o que isto seja, trocar o humanismo pelo artificialismo, de coração de relojeiro, maquinado num blockbuster sem grandes invenções no foro narrativo, e CGI domesticado. E é assim que Hollywood vende-nos a ideia que o AI está aí e veio para ficar, abram alas … é por via da nostalgia, maldita seja, esta época em que ressentimos ou desesperamos pelas nossas memórias.

Título original: Tron: Ares Realização: Joachim Rønning Elenco: Jared Leto, Greta Lee, Evan Peters, Jeff Bridges, Gillian Anderson Duração: 119 min. País: EUA, 2025

Foto: © 2025 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.

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