O processo de animação digital de «Vaiana 2» [«Moana 2»] é perfeito, é mais um salto tecnológico da Disney, mas em termos de narrativa é uma obra desconjuntada. É um filme pouco coeso e demasiado episódico. Parece que estamos numa peça musical com diferentes actos que deslumbram a solo mas que dizem muito pouco no seu conjunto.
Vaiana (voz de Auli’i Cravalho), deseja um futuro para a sua ilha e palmilha o oceano à procura de outros povos porque só assim será possível que a sua comunidade não se extinga no esquecimento do tempo. O filme tem essa componente de conto de advertência dos “povos do mar” para os povos da Terra…
O enredo tem boas ideias e uma mensagem assertiva: unir os diferentes povos para obter a harmonia e o desenvolvimento, o isolamento é o fim: é o inimigo mortal do progresso. É um subtexto subtil que não deve criar boicotes ou eriçar a tendência global das hostes extremistas.
Vaiana através do espírito de um antepassado descobre que a ilha mística de Motufetu é a chave para as correntes marítimas que podem aproximar os povos do oceano. A ilha foi escondida pelo Deus Nala, uma entidade sedenta de poder que não deseja a união entre as várias culturas… Entra em acção Maui (Dwayne Johnson), o nosso semideus preferido junta forças a Vaiana para quebrar a maldição de Nala. Matangi é a serva de Nala, é uma mulher morcego com laivos de duplicidade, rouba o show, apimenta a narrativa e ainda ensina a nossa heroína – e os mais pequenos – que há sempre um caminho para alcançar o que desejamos. Matangi tem um belo desempenho de voz de Awhimai Fraser (digna da excentricidade das grandes vilãs da Disney), é a melhor personagem do filme a par de Vaiana e Maui (e sem contar com a galinha taralhouca).
Vaiana é acompanhada nesta aventura por inúmeros personagens na sua nova embarcação, a sua química com Maui é diluída. A base de «Vaiana 2» era uma série de animação para a Disney+ que acabou por ser readaptada nesta longa-metragem. Estas inúmeras personagens advêm provavelmente dessas origens televisivas e têm o efeito inverso no filme, são uma distração e pouco acrescentam à odisseia de Vaiana por serem demasiadamente estereotipadas, são óbvias e apenas funcionais.
As canções aliadas à animação são o momento alto do filme, mas esses picos de entusiasmo não se repercutem na narrativa. As vozes de Auli’i Cravalho e Dwayne Johnson continuam perfeitas para os seus personagens, eles são o porto seguro e elevam uma obra inconstante. Sempre que vemos uma obra de animação Disney no cinema é incontornável não ter presente a excelência da marca e um alto padrão de qualidade que é quase centenário. A Disney aposta nas sequelas porque são box-office garantido. Apesar de me parecer um filme incompleto, «Vaiana 2» é à prova de crítica e poderá ser um grande sucesso nas bilheteiras.
Título original: Moana 2 Realização: David G. Derrick Jr., Jason Hand, Dana Ledoux Miller Elenco (vozes): Auli’i Cravalho, Dwayne Johnson, Awhimai Fraser, Rose Matafeo, Hualalai Chung, David Fane, Khaleesi Lambert-Tsuda, Temuera Morrison Duração: 100 min. EUA/Canadá, 2024