“Thorgal Saga vol. 1: Adeus Aaricia” (A Seita) marca o regresso e a reinvenção de um dos heróis clássicos da banda desenhada. A assinatura do álbum ficou a cargo de Robin Recht que teve a oportunidade de reimaginar um herói da sua adolescência a convite da editora francesa Le Lombard, em 2019. Em termos de desenho, o artista optou por seguir a tradição de Grzegorz Rosiński, artista original do personagem com raízes na mitologia nórdica. Neste álbum, Recht assumiu o estilo clássico de três faixas de Rosiński. Os enquadramentos são mais calmos e os planos permitiram trabalhar os rostos num estilo gráfico que tende para o realismo.
Relembramos que o personagem criado por Van Hamme. O título é considerado um dos mais populares da Le Lombard, sendo publicado pelo gigante editorial francês entre a série original e os spin-offs. Estima-se que desde a sua existência as BDs de Thorgal já venderam 11 milhões de exemplares em França.
A história deste álbum tem uma mecânica simples, mas sentimentos complexos. Thorgal está no crepúsculo dos seus dias, acaba de perder Aarícia, o seu grande amor, quando subitamente é confrontado com as falinhas mansas de um velho inimigo, a serpente Nidhogg. Este oferece-lhe o anel de Ouroboros, um objeto que permite a Thorgal uma viagem ao passado onde poderá rever novamente a sua amada. A vontade é mais forte do que a razão e o protagonista entra no túnel do tempo…
Thorgal viaja 60 anos no passado, fatigado pelo tempo e pela perda da sua eterna companheira. Ele está numa praia próxima da povoação onde cresceu e onde uma jovem Aarícia acaba de ser raptada. Na povoação encontramos o jovem Thorgal, um adolescente irrequieto cheio de personalidade e coragem, é também um excelente batedor. Ele deseja provar o seu valor como guerreiro na tentativa fútil de impressionar o pai de Aarícia, Gandalf, o Rei dos Vikings do Norte – este que odeia o fantasma que vê no miúdo…
Thorgal tem mais de 70 anos e depara-se com a sua versão jovem, eles confrontam-se e juntam forças, não há alternativa, Aarícia tem de ser salva. Thorgal “sénior” vai ser uma figura paternal para a sua versão adolescente ao mesmo tempo que tenta ser igualmente um conto de advertência. Inicia-se uma jornada de aventura pelas florestas de coníferas, as montanhas e os territórios dos baald para resgatar Aarícia. Simultaneamente, o Thorgal mais experiente tenta compreender os desígnios nefastos da armadilha monstruosa de Nidhogg. Ambos são acompanhados pelo Rei Gandalf e Skraeling, a negra, uma poderosa guerreira e líder dos Skraelingars. Ela luta como se possuísse toda a raiva de Thor e afirma ser a filha de Surtur, o negro… Skraeling e a experiência do herói veterano tornam-se uma espécie de guardiões e mentores do jovem Thorgal numa jornada a ferro e fogo. Skraeling é a única personagem original desta obra, uma personagem heroica e um modelo para o futuro herói.
“Thorgal Saga vol. 1: Adeus Aarícia” apresenta-se como um reboot na série deste grande aventureiro da BD. É sem dúvida um confronto de uma vida e o reconhecimento de um sinuoso trajeto de um herói marcado pelas agruras do tempo. É uma aventura com um espírito solene e de contemplação existencial e, ao mesmo tempo, possui aquela energia que se foi diluindo no tempo, mas que renasce de forma fulgurante neste álbum, dissipando aos poucos a melancolia. É um contraste que enreda o leitor nesta viagem no reencontro com o herói ao mesmo tempo que se inicia uma nova odisseia. Esta fabulosa edição de A Seita termina com um pequeno making of deste álbum.
