Há mais de uma década que o universo cinematográfico da DC tenta suplantar em espectacularidade e invenção o sucesso dos filmes da Marvel, porém sem grande êxito. O problema não está nas personagens de quatro cores – a DC reúne as três personagens que permanecem populares e a serem editadas há mais de 80 anos, Superman, Batman e Wonder Woman. A Marvel, sob a direcção de Kevin Feige, criou um estilo e uma fórmula para o sucesso cinematográfico, que apesar de alguns sobressaltos nos últimos anos, continua muito eficaz e bem-sucedida, pelo menos nas bilheteiras.

O que a DC tem feito realmente não passa de uma tentativa de emulação dos modelos da concorrência, e talvez esteja aí a razão do seu insucesso relativo face à Marvel. Talvez um rumo mais arrojado e original tivesse tornado os heróis da DC mais apelativos e triunfantes. A DC tem agora em James Gunn e Peter Safran os arquitectos de um remodelado universo cinematográfico DC, mas teremos de esperar um par de anos para concluirmos se dali virá algo de inovador ou mais do mesmo. «The Flash» é uma das derradeiras produções concebido pela chefia do estúdio DC, inspirado pela visão de Zach Snyder – criador de «Liga da Justiça» (2017), «Homem de Aço» («Superman», 2013) e produtor de ambos «Suicide Squad». Este «Flash» parece um produto híbrido que procura harmonizar o passado com o que será o futuro, e falha de um modo constrangedor. Vamos por partes, The Flash é um dos grandes heróis da DC, a sua versão mais conhecida é a do cientista forense Barry Allen, que adquire poderes de super-velocidade depois de um acidente onde um relâmpago atinge o laboratório de Barry ao mesmo tempo em que ele é afectado por um cocktail de produtos químicos. Barry Allen torna-se o campeão de Central City lutando tenazmente contra todos tipos de inimigos. Com a introdução de Barry Allen no universo DC, no já longínquo ano de 1956, The Flash torna-se no primeiro super-herói do rol da DC comics, inaugurando assim aquilo que foi retroactivamente apelidado de The Silver Age of comics. Nesta adaptação cinematográfica, dirigida por Andy Muschietti – o autor do remake de «IT», de Stephen King, tenta combinar algum do passado recente dos filmes DC – Batman, Justice League, com uma perspectiva mais autónoma e virada para o futuro, porém o que resulta é algo, de em última análise, confuso, especialmente o capítulo final. Nas partes iniciais do filme, The Flash parecer ser mais algo de paralelo às aventuras da Liga da Justiça – elaboradas sequências de acção e muito humor, com participações de alguns dos demais membros da Liga da Justiça. Uma sequência de destaque é aquela em que Barry tenta salvar um hospital de um desmoronamento onde chovem literalmente bebés de uma maternidade. O trauma fundador da carreira de Flash é o homicídio da sua mãe que foi erradamente atribuído ao seu pai. É ao tentar resolver o enigma, que Flash viaja no tempo, encontra a sua versão adolescente e escangalha o contínuo espaço-temporal. Barry, ou melhor, os Barrys estão agora num universo completamente diverso, onde os meta-humanos não existem, e para complicar mais as coisas, o kryptoniano general Zod prepara-se para conquistar a Terra. Nesta realidade não há Super-Homem, mas há uma outra versão de Bruce Wayne e Kara Zor-El, a Supergirl vinda de Krypton. A páginas tantas a narrativa torna-se mais complexa e retorcida a cada novo instante. Os Barrys unem forças com uma velha versão de Batman e esforçam-se para redimir a Terra. No entanto, a narrativa torna-se algo difusa no seu capítulo final deixando o espectador algo perplexo, pois as realidades confundem-se criando outros mundos insuspeitados.

«The Flash» parece uma manta de retalhos, alinhavada à posteriori onde os produtores procuraram combinar a história recente do DCU com uma outra perspectiva futura. Não creio que tenham conseguido o objectivo. Apesar de algumas sequências bem concebidas – a pluralidade de Bruce Waynes, por exemplo, o filme resulta desequilibrado e neutro e não. a culpa não é do protagonista, o mal-amado Ezra Miller que faz tudo para honrar o homem mais rápido do mundo. Um entretenimento meio falhado que nos faz pensar o que poderia ter sido um filme com um argumento mais linear. Os multiversos ainda vão dar cabo das fitas de super-heróis. Manuel C. Costa

Título Original: The Flash Realização: Andy Muschietti Elenco: Ezra Miller, Michael Keaton, Sasha Calle, Michael Shannon, Ron Livingston, Maribel Verdú, Kiersey Clemons, Jeremy Irons, Ben Affleck, Gal Gadot Duração: 144 min. EUA, 2023

https://www.youtube.com/watch?v=AES7f6STWHk&t=10s
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