“Tales from Nevermore” (Ala dos Livros) chega às livrarias com uma atraente capa em recorte e ao estilo gótico. Após as cinco estrelas pela apresentação do livro, entramos no reino do terror e do humor negro da autoria de Manuel Monteiro e Pedro Nascimento num delicioso conjunto de seis short stories que têm como ponto de partida um cemitério. O nosso mestre de cerimónias do cemitério dos mortos esquecidos de Nevermore é um corvo. O nosso narrador vai conduzir-nos por histórias de almas que já partiram e vagueiam na eterna solidão.

O livro possui um preto e branco altamente expressivo; as várias personagens ganham vida por meio da arte destes autores. As narrativas não são para fracos; muitas delas exploram o lado mais insólito da humanidade. Em “Lisandra”, uma jovem tem sua vida marcada pela crueldade do próprio pai, que acusou a sua esposa de infidelidade e baniu a criança. Passados 18 anos, após uma vida consumida pela solidão, o álcool e a luxúria, o pai escreve à sua filha para tentar corrigir os erros do passado e surpreende-se quando ela se torna o seu pior pesadelo. É como quem escreve: tem a carinha do pai…

A nossa segunda história, “A True Angel”, é uma macabra exceção, em que a morte paira para a eternidade por cima de uma sepultura sob a forma de um anjo, um relato em que a vida e a morte estão separados por um fio. É a história de um escultor que, na edificação da sua Magnum opus (um anjo que irá pairar sob a sua sepultura), acaba por matar uma criança com a dita escultura. Ao encobrir o crime, banhando o corpo da criança em cerâmica líquida, acaba por criar uma obra-prima de carne e osso. Este livro é fértil no terror, mas também na ironia do destino…

Em “26/10/1976”, dois jovens decidem ignorar a razão na procura de locais isolados e encontram um diário tresloucado num quarto abandonado.

Em “Family Ties” temos um enredo digno da «The Twilight Zone». Dois irmãos naufragam numa ilha isolada. O que se segue é grotesco. Digamos que um dos irmãos prefere bife de vaca, enquanto o outro não se importa de comer frutas e vegetais. O problema é quando a fome aperta…

Em “The Reaper’s Bride”, encontramos um short story que explora pactos com a morte, os quais geralmente correm mal, especialmente quando as promessas são quebradas e a morte se aproxima para a condenação eterna.

“Cursed Grip” é o conto mais arrepiante e sanguinário deste livro. Um sórdido conto de amor maternal encerra com chave de ouro este álbum tributo aos grandes clássicos de terror. É um relato sob o poder do luto que faz levantar literalmente os mortos da campa. Uma senhora vai todos os dias ao cemitério, à campa da família que perdeu, e descobre a beleza naquilo que repugna — uma encarnação do mal — que brota do chão. Mas a criatura é acolhida pela senhora e demonstra um desejo por sangue, e a cada gota que consumia, desabrochava. A senhora fazia tudo por ele, pois queria viver o sonho de ter novamente um filho. O seu desejo é concedido, mas, para isso, paga com a sua própria vida, reunindo-se com a família que perdeu.

As short stories têm entre si interlúdios que são hilariantes, seja publicidade ao último grito (poderá ser mesmo) da moda com o lançamento de uma Ouija Board ou com o corvo Vincent em amena cavaqueira com grandes autores. O espetáculo finaliza com um obrigatório fan mail.

“Tales from Nevermore” é um livro de caixão à cova, uma grande surpresa com o terror e o humor de mãos dadas com a originalidade dos autores Pedro Nascimento e Manuel Monteiro.

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